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Incêndios vão afectar qualidade da água e aumentar a erosão dos solos

Especialistas e ambientalistas lançaram o alerta esta semana

Os incêndios florestais que devastaram milhares de hectares de mato e floresta na Beira Interior vão fazer aumentar os caudais dos rios que são afluentes do Tejo, avisou esta semana o engenheiro florestal Rolando Martins. Segundo aquele técnico da Associação de Desenvolvimento Pinus Verde, de Silvares (Fundão), a situação «poderá causar problemas acrescidos às populações ribeirinhas, já no próximo Inverno». Mas este não será o único problema decorrente dos últimos fogos, também estão em causa a qualidade da água dos rios Mondego e Zêzere e a erosão dos solos ardidos. Os alertas foram lançados esta semana. A primeira consequência directa dos fogos é a destruição da vegetação que faz a retenção da água das chuvas, fazendo com que os cursos de água, nomeadamente os rios Tejo e Zêzere, recebam directamente caudais «muito maiores», esclareceu Rolando Martins. De acordo com este técnico, em muitas das áreas ardidas «havia floresta de regeneração de pinheiro bravo, resultante de incêndios de há 10 anos, que não teve tempo suficiente para deixar semente para novos povoamentos. Em muitos dos locais já não vai voltar a crescer mata», conclui. Além do aumento dos caudais dos cursos de água, a erosão dos terrenos também será mais acentuada ao longo «das dezenas de milhares de hectares que ficaram a nu», acrescentou aquele responsável. A Quercus já conseguiu especificar a dimensão da próxima tragédia e estima que mais de 12,5 milhões de toneladas de solo vão entrar em erosão durante o próximo ano por causa dos incêndios florestais, revelaram terça-feira os ambientalistas. «Por cada hectare de área ardida há 50 toneladas de solo que vão desaparecer nos próximos 12 meses, segundo vários artigos científicos que avaliam as consequências dos fogos florestais. E chegámos às 12,5 milhões de toneladas considerando cerca de 250 mil hectares ardidos», explicou o dirigente Francisco Ferreira, citado pela agência Lusa. Com as primeiras chuvadas de Outono, prevê-se que o solo desprotegido comece a entrar em processo de erosão e seja arrastado para rios, mares e outras linhas de água. Assim, a Quercus teme que a qualidade da água para consumo humano possa ser afectada, já que os sedimentos dos solos que são arrastados podem conter substâncias que alterem as características da água. Um receio partilhado por Fernando Matos, director do PNSE, após considerar que os cursos de água, principalmente o do Zêzere, foram «violentamente afectados» pela poluição provocada pelos incêndios. «Tendo em conta que a Serra da Estrela abastece 65 por cento do país, a situação é algo preocupante, pois só a barragem de Castelo de Bode fornece água a mais de um milhão de pessoas», avisa.

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