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Incêndio consumiu vasta área do Parque Natural da Serra da Estrela

Vento, reacendimentos e acessos difíceis dificultaram trabalho dos bombeiros durante quase dois dias nos concelhos de Gouveia e Manteigas

À hora do fecho desta edição, anteontem à noite, 430 operacionais, apoiados por 140 veículos, continuavam no Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE) a combater as chamas, que progrediam numa frente ativa já no concelho de Manteigas. Ao fim de dia e meio de luta vã para dominar o fogo que começou em Gouveia ao princípio da tarde de segunda-feira, os bombeiros não tinham mãos a medir muito por culpa do vento, que soprava com constantes mudanças de direção, dos sucessivos reacendimentos e dos acessos difíceis.

Ao final da tarde de terça-feira, o contingente foi reforçado com quatro grupos de combate vindos de Aveiro, Coimbra Faro e Leiria e esta era a ocorrência com mais meios envolvidos. O fogo teve início no lugar da Sra. do Monte, na União de Freguesias de Aldeias e Mangualde da Serra, tendo o alerta sido dado pelas 14h46 de segunda-feira. Apesar da chegada de vários meios aéreos, as chamas progrediram com intensidade pelo Monte Farvão e Monte Malhão, tendo chegado ao maciço da Serra e ao Vale do Rossim mas sem nunca ameaçarem povoações ou casas. A meio da manhã de terça-feira, o incêndio fustigou o Covão de Santa Maria e alastrou para o concelho de Manteigas atingindo zonas como o Covão da Ponte, o Mondeguinho – onde nasce o rio Mondego –, Campo Romão, as Penhas Douradas e Vale da Castanheira. Neste último lugar, o combate às chamas complicou-se ao princípio dessa noite, quando a única frente ativa voltou a ganhar força.

Numa primeira estimativa, o presidente da Câmara de Gouveia adiantou a O INTERIOR que poderão ter ardido cerca de mil hectares de floresta e mato do PNSE. Luís Tadeu lembrou que as chamas estiveram ativas durante cerca de 24 horas no seu concelho e que o trabalho dos bombeiros foi «dificultado pelo vento que se fazia sentir no local e pelos acessos difíceis». Do outro lado da serra, José Saraiva Cardoso, vice-presidente da Câmara de Manteigas, confirmou que «as coisas estavam muito complicadas» ao final da tarde de terça-feira, sobretudo na zona das Penhas Douradas e, mais tarde, no Vale da Castanheira. Segundo o autarca, cerca das 18 horas tinham sido destruídos «mais de 150 hectares» de mato e floresta no concelho de Manteigas, mas a contagem deverá ter aumentado com o passar da noite e a evolução das chamas, que não ameaçaram populações ou casas. O mesmo já não se poderá dizer de uma vasta área do PNSE, conhecida pela sua biodiversidade em termos de flora e fauna.

Quanto às causas deste grande incêndio, «ainda não há qualquer suspeita sobre a sua origem», disse António Fonseca, comandante operacional distrital da Guarda, na terça-feira.

Frequência de incêndios na Covilhã «é algo de anormal»

No passado domingo mais um incêndio fustigou a encosta da Serra da Estrela, junto à Covilhã. O incêndio deflagrou cerca das 14h30 perto da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da UBI e rapidamente alastrou para outras áreas, chegando a ser necessário evacuar por precaução o Parque de Campismo do Pião, do Clube de Campismo e Caravanismo da Covilhã. No combate às chamas estiveram envolvidos 210 bombeiros, apoiados por 63 viaturas e oito meios aéreos.

Devido a este incêndio perderam-se explorações agrícolas, colmeias, mata nacional e casas não habitadas. Segundo o presidente da Câmara, desde março já arderam no concelho cerca de mil hectares. A frequência de incêndios que se tem registado nos últimos dias é, para Vitor Pereira, «suspeita» e considera que «algo de anormal se passa com tantos incêndios em tão curto espaço de tempo». Só no domingo deflagraram tês incêndios na Covilhã em locais dispersos. O edil não tem dúvidas que os incêndios têm origem criminosa e já fez um apelo às autoridades policiais para «atuarem em força». De resto, a Polícia Judiciária já está no terreno a investigar. Vitor Pereira espera que «os criminosos sejam apanhados e condenados pelas ocorrências que põem em causa o património».

Associação de Técnicos de Segurança e Proteção Civil critica falta de prevenção

A Associação Portuguesa de Técnicos de Segurança e Proteção Civil (AsproCivil) considera que os incêndios florestais podiam ser evitados se tivessem sido tomadas medidas de prevenção, e apelou às autoridades para que trabalhem nesse sentido.

Com mais de dois mil fogos só este mês, a AsproCivil lembra em comunicado que, já em março e abril, tinha alertado «o país e as entidades responsáveis pelo setor da proteção civil», para o risco elevado de incêndios no verão. No entender da associação, pelas características do inverno passado (com aumento substancial de combustíveis finos, vegetação rasteira), mas também pela «realidade dramática» de algumas associações de bombeiros, «que estão a entrar num processo de falência». É necessário, defende a AsproCivil, que autoridades e população se concentrem nas medidas de prevenção, informação, fiscalização e autoproteção – um apelo feito ao Governo mas também à Autoridade Florestal Nacional, às Câmaras, às Associações de Agricultores, aos proprietários privados e às concessionárias das autoestradas e estradas. E que se criem áreas de proteção e acessos a meios operacionais, que se faça a limpeza de propriedades e de combustíveis finos nas beiras das estradas.

* Com Patrícia Garrido e João Nobre

Apesar do trabalho dos meios aéreos, o fogo iniciado em Gouveia subiu a serra e rondou as Penhas Douradas

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