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Impasse negocial mantém-se na Delphi

Bispo da Guarda diz que é preciso «fazer pressão» junto do poder para «não se pôr à margem esta região onde os níveis de desemprego já são superiores à média nacional»

Os trabalhadores da Delphi foram de férias sem chegarem a acordo sobre as indemnizações com a administração da multinacional de cablagens. O impasse manteve-se nas negociações da passada sexta-feira, numa reunião em que as partes voltaram a divergir quanto ao valor das compensações e a alguns pontos da proposta apresentada pela empresa, que fecha portas no final do ano. Sindicatos e responsáveis da fábrica vão reunir de novo a 24 de Agosto.

«Os trabalhadores consideram que nada vai pagar o seu desemprego, tanto mais que lhes tinham sido criadas expectativas de que a fábrica não ia fechar tão cedo, pelo que consideram que as indemnizações agora propostas não são suficientes. Mas a empresa já disse que não vai alterar os dois meses por cada ano de trabalho», disse o coordenador do Sindicato das Indústrias Transformadoras e da Energia (SITE). Júlio Balreira revelou ainda que a Delphi aceitou «suavizar» o ponto sobre a produtividade exigida até ao fecho da empresa. «Os trabalhadores querem ter dignidade neste processo e continuar a ser os melhores até ao fim», garantiu, acrescentando que a ida de funcionários da Guarda para Castelo Branco ou Polónia para dar formação será feita em regime de voluntariado. O que se mantém é o não pagamento de subsídios de transporte para quem quiser trabalhar na unidade da capital do distrito vizinho. «A Delphi mantém-se irredutível e apenas assume o vencimento e a antiguidade na empresa», disse o sindicalista.

Nesse mesmo dia, o Bispo da Guarda reclamou acções com vista a fomentar o auto-emprego ou de base familiar junto dos operários que vão ser despedidos no final do ano. «Há medidas e iniciativas concretas para reorganizarem a sua vida e não ficarem parados, como o micro-crédito e a formação na área do empreendedorismo», exemplificou. D. Manuel Felício sublinhou que «toda a gente na Guarda vai ser prejudicada com o fecho da Delphi» e sugeriu ainda o regresso à agricultura como sendo «uma oportunidade» para quem ficar sem trabalho. O bispo assumiu que é preciso «fazer pressão» junto do poder para dar atenção a estas pessoas, exigindo a aplicação do fundo de coesão social para «não se pôr à margem esta região onde os níveis de desemprego já são superiores à média nacional», alertou. D. Manuel constatou também que «não basta ter uma zona industrial privilegiada, como a PLIE, é preciso criar condições de atractividade, além da administração central desencadear para o distrito projectos-âncora, o que não está a acontecer».

Também a presidente da direcção da Caritas Diocesana considera que «o pior será daqui a algum tempo, quando acabarem os subsídios». Emília Andrade recorda que a instituição dispõe de um gabinete de apoio para «socorrer e ajudar» os futuros desempregados, mas também está disponível para fazer aconselhamento na gestão das indemnizações. «Uma forma de investir era fazer formação na área do empreendedorismo para o auto-emprego», referiu, lembrando o êxito alcançado com a colaboração do Centro de Inovação Empresarial da Beira Interior (CIEBI). «O importante é não perder tempo», avisou a dirigente da Caritas.

Luis Martins Sindicatos e administração da multinacional voltam a reunir dia 24 de Agosto

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