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ICOMOS compara vandalização de gravura rupestre «ao rasgar da “Gioconda”»

Sucedem-se as críticas ao Ministério da Cultura pela falta de meios e a gestão «ineficaz» do Museu e Parque Arqueológico do Vale do Côa

O ICOMOS Portugal considera que a vandalização da gravura rupestre do “Homem de Piscos” é comparável à destruição da icónica “Gioconda”, de Leonardo da Vinci.

Num comunicado divulgado na sexta-feira, a Comissão Nacional do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios manifestou «profunda preocupação» com a situação do Museu do Côa e do Parque Arqueológico do Vale do Côa (PAVC) «há alguns anos», considerando que «sofrem de uma gestão ineficaz e de uma crónica falta de recursos humanos e financeiros». Para o ICOMOS Portugal, esta situação «acabou por resultar no ato de vandalismo» do “Homem de Piscos” que, «pela sua gravidade, poderá ser comparado ao rasgar da “Gioconda”», pois, «tal como essa excecional obra da Renascença, as gravuras paleolíticas com mais de 15 mil anos agora atingidas representam um património artístico e simbólico incomparável, tendo por isso merecido, em 1998, a sua inclusão na Lista do Património da Humanidade». O organismo adianta que já comunicou o sucedido ao ICOMOS Internacional e à Comissão Nacional da UNESCO, tendo solicitado à tutela da Cultura a reposição, «com caráter de urgência», da vigilância no parque para evitar outros eventuais ataques.

Também a Associação dos Arqueólogos Portugueses (AAP) está indignada com o «criminoso atentado» contra aquela gravura rupestre e «condena com veemência e manifesta a sua mais viva indignação» pelo vandalismo de um dos mais significativos núcleos de arte rupestre do Vale do Côa. A direção da AAP exige ainda «uma punição exemplar dos autores materiais» deste ato, mas também que o Ministério da Cultura intervenha «de modo a assegurar a reposição imediata, e até o reforço do dispositivo de vigilância e segurança dos vários núcleos de arte rupestre que o integram». Por sua vez, a associação Amigos do Parque e Museu do Côa (ACÔA) considera tratar-se de um «dano irreversível e, tanto mais grave no que isso significa num bem Património Mundial à guarda da Fundação Côa Parque», num núcleo aberto ao público. Para a ACÔA, este caso põe a nu a «falta de vigilância da arte, a falta de manutenção no museu, a falta de meios, de estratégia e de gestão» desde que a Fundação foi criada.

A ACÔA, presidida pela antiga diretora do PAVC, a arquiteta Alexandra Cerveira Lima, aproveita também para sugerir a abertura de um concurso para a presidência da Côa Parque – que deverá ser ocupada por Bruno Navarro –, «mesmo que internacional, ao qual se possam apresentar candidatos com perfil ligado ao património, à arqueologia, à história, à gestão». Isto porque, alerta aquela entidade, o presidente do Conselho de Administração da Fundação é o único administrador executivo e, «como tal – com exceção do atual presidente, António Ponte, que não é remunerado –, plenipotenciário e com condições a diversos títulos favoráveis, parecendo tornar-se mais facilmente um lugar de discricionária, negociada e lenta escolha partidária, do que de escrutinada decisão à luz de critérios estabelecidos previamente, sejam científicos ou de gestão».

Luis Martins Desconhecidos gravaram uma bicicleta, um humano esquemático e a palavra “BIK” sobre o “Homem de Piscos”

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