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Humilhados e ofendidos

Agora Digo Eu

1. Virgílio Bento era o candidato natural do PS à Câmara da Guarda. Tinha vários trunfos a seu favor. Desde logo um capital acumulado de experiência autárquica, o que não é despiciendo nestes tempos de crise e incerteza. Longe vão também os tempos do Virgílio Bento reativo, intempestivo, quase colérico. Hoje, é um homem mais sereno, mais diplomático, ganhou calo, a pele tornou-se mais dura e impermeável aos inevitáveis ataques de quem ocupa estes cargos e quem não aprende a lidar com as críticas nunca se deve meter nestas andanças. Enfim, Virgílio tornou-se um político. A política pode não ser para os melhores, mas, ao contrário do que rezam as crónicas, é seguramente para os mais fortes. Pelos vistos, nada disto comoveu os seus camaradas locais, que preferiram dar um tiro no escuro ao eleger José Igreja como o candidato oficial pelo PS. Notoriamente, Virgílio Bento ficou perturbado com esta história. É um animal ferido e despeitado, que se sente traído e enganado pelos seus. Na política, já se sabe, não há gratidão. Começou, entretanto, a formar-se uma onda de apoio e incentivo para que avançasse como candidato independente. É natural que não tenha resistido aos apelos. E Manuel Rodrigues, que até há uns meses era o seu potencial adversário na corrida à Câmara, tornou-se agora o seu principal aliado, depois de, também ele, ter sido vítima de múltiplas humilhações políticas dentro do PSD. Enfim, os humilhados e ofendidos juntaram-se e vieram baralhar as contas. Nunca umas eleições na Guarda foram tão interessantes.

2. Nos últimos tempos, ganhei verdadeira aversão à maioria dos comentadores televisivos. Quando ligo a televisão e apanho com um destes espécimes, mudou logo instintivamente de canal. Tornou-se-me insuportável ouvir sempre a mesma ladainha, a mesma conversa da treta. Esta gente parece viver noutro planeta e não acrescenta nada à nossa compreensão da realidade terrena. A maioria, especialista em tricas e futricas, espreme os miolos a tentar decifrar o que fulano disse sobre beltrano e a especular sobre as intenções de sicrano. Uma pobreza intelectual de bradar aos céus. São uma praga.

3. Ingenuamente, muitos pensam que, após as eleições de setembro na Alemanha, vai ser possível uma viragem na política europeia, que a “austeridade” será finalmente abandonada. Infelizmente estão enganados e mostram não conhecer minimamente a realidade alemã. Primeiro, a Alemanha não é Portugal, onde é possível um político chegar ao poder e fazer tudo ao contrário do que andou a dizer em campanha: a opinião pública alemã jamais toleraria tal coisa. Segundo, a austeridade (os alemães não lhe chamam assim, chamam-lhe “poupanças”) é consensual em todo o espectro partidário germânico. Nas atuais circunstâncias, é tão politicamente suicida um político alemão prometer o fim da austeridade como um candidato a presidente dos EUA negar Deus.

Por: José Carlos Alexandre

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