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Hossana

Editorial

1. «Maior do que Portugal», escreveu Miguel Sousa Tavares sobre António Guterres após a sua nomeação para Secretário-Geral da ONU. A frase até pode parecer excessiva aos olhos de alguns, mas, na verdade, o antigo primeiro-ministro português é não apenas uma grande personalidade portuguesa, mas um homem do mundo. Um homem de que Portugal se deve sentir orgulhoso, um homem que chega ao cume da diplomacia internacional por mérito próprio, porque o quis, porque se preparou para triunfar, porque foi melhor do que os outros e foi muito melhor do aquilo que normalmente se espera de um português… António Guterres vai secretariar o mundo em prol da paz e da harmonia naquela que é a maior e mais importante instituição do mundo. Uma instituição tão grande e tão relevante que tem imensas virtudes e muitos defeitos, e porventura essa será a primeira grande tarefa do próximo secretário-geral: reformar as Nações Unidas por dentro, por forma a dar resposta às situações emergentes, para mudar o percurso da história em relação aos refugiados, para recuperarem a sua credibilidade e a sua força, para serem muito mais do que a polícia do mundo sem capacidade de intervir e de mudar o curso dos acontecimentos.

Com a nomeação do antigo primeiro-ministro português é todo um país que se deve orgulhar e em particular a nossa região. António Guterres é um beirão, nascido em Lisboa. É um cidadão do mundo originário das Donas, no concelho do Fundão. É um viajante que viveu a infância na aldeia da Beira Baixa. É um peregrino da humanidade. «É o secretário-geral do mundo».

2. Portugal é um país de brandos costumes… por isso, ou também por isso, a operação de rotina da GNR que se transformou em pesadelo, em Aguiar da Beira, provocou surpresa e consternação em todo o país. Perseguições, tiroteios, homicídios… Episódios de violência com esta índole não são normais na Europa, mas menos ainda em Portugal – o tal jardim à beira-mar plantado. Isto não é cinema, mas foi um filme trágico de violência inexplicável, de terror com pânico inaudito, de suspense em cada take, de espanto e sobressalto… Na madrugada de terça-feira, próximo das Caldas da Cavaca, uma patrulha acabou mal para os dois militares da GNR que a efetuavam: um deles foi abatido a tiro e o outro foi ferido com gravidade, mas a tragédia não ficou por aí, com mais um militar ferido na perseguição e a descoberta de dois outros homicídios. Num território por onde deambulou Aquilino e onde a natureza domina a profundidade da paisagem, os tiros e as sirenes irromperam violentamente sobre o silêncio de um concelho dominado pela pacatez, a tranquilidade e o verde, que nessa manhã foi retalhado pela fatalidade da morte. Inexplicável. Inaceitável. Atordoados, enquanto os sinos dobram, temos de homenagear os mortos e dar vivas aos vivos. Portugal não é assim. E a região de Aguiar da Beira ainda menos.

Luis Baptista-Martins

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