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Hospital Sousa Martins fecha maternidade por tempo indeterminado

Conselho de Administração decidiu após obstetras terem formalizado exigência de presença física permanente de um neonatologista 24 horas sobre 24

A maternidade do Hospital Sousa Martins está parcialmente encerrada por tempo indeterminado dada a impossibilidade de assegurar a presença física permanente de um neonatologista naquela valência da Obstetrícia 24 horas sobre 24. Desde segunda-feira que as mulheres com mais de 22 semanas de gravidez são encaminhadas para a unidade hospitalar da Cova da Beira, na Covilhã, continuando a Guarda a assegurar o acompanhamento de parturientes até às 21 semanas. A decisão foi tomada pelo Conselho de Administração (CA) após os obstetras terem formalizado essa exigência e declinado «toda e qualquer» responsabilidade caso a recomendação da Ordem dos Médicos não fosse cumprida, explica José Cunha, director clínico.

Um desfecho que estava a ser ponderado desde quinta-feira, altura em que a ARS Centro e o Ministério da Saúde ficaram a conhecer a proposta do Sousa Martins em encerrar a maternidade por algum tempo «por não ser possível neste momento garantir sem interrupções a valência», refere o médico, sublinhando que os obstetras já não aceitam que o pediatra esteja em prevenção, «como vinha acontecendo há uns anos». Uma posição que, segundo José Cunha, «não deixa alternativas» ao CA do hospital guardense, que terá considerado «prioritário» a manutenção do serviço de Pediatria e das Urgências Pediátricas fechando a maternidade para garantir «a boa prática da assistência médica» às grávidas antes e depois do parto. «Actualmente temos condições para assegurar a Pediatria, mas não para os dois serviços. Se der resposta à Obstetrícia, fico sem médicos na Pediatria», acrescenta o director clínico, que considera «desgastante» para o bom nome do hospital e do serviço abrir e fechar a maternidade. «Se não temos capacidade para garantir a sua continuidade é porventura melhor suspender a actividade assistencial até termos condições para podermos satisfazer aquelas exigências», admite.

O director clínico garante, de resto, que o presidente da ARS do Centro e a tutela estão novamente no terreno à procura de pediatras para que o Sousa Martins possa manter a maternidade, uma valência que poderá reabrir «a qualquer instante», acredita José Cunha. Segundo dados oficiais, entre Março de 2003 e 1 de Março 2004, aquele serviço realizou 900 partos, 500 dos quais foram naturais, e quatro mil urgências obstétricas em todo o período de gravidez. Por outro lado, foram efectuadas 11.200 urgências pediátricas em igual período. Já o recente fecho da maternidade no fim-de-semana do Carnaval terá motivado a transferência de 10 parturientes para o Hospital da Cova da Beira [mais sete desde segunda-feira]. Desde Novembro do ano passado que a Ordem dos Médicos tem recomendado o cumprimento das normas técnicas definidas pela direcção do Colégio de Especialidade de Ginecologia/Obstetrícia relativamente ao funcionamento dos blocos de parto. As regras foram aprovadas pelo Conselho Nacional Executivo da Ordem dos Médicos e estabelecem que estas valências não poderão funcionar com menos de três obstetras/ginecologistas, sendo pelo menos dois especialistas; e sem a disponibilidade permanente de um anestesista e de um pediatra, para além da presença de duas enfermeiras, uma das quais com especialidade de Enfermagem Obstétrica.

Requisitos por cumprir em onze hospitais nortenhos (Amarante, Barcelos, Bragança, Póvoa de Varzim/Vila do Conde, Chaves, Famalicão, Matosinhos, Mirandela, Santo Tirso, Vale do Sousa e Viana do Castelo), como apurou o Conselho Regional do Norte. Em contrapartida, apenas seis unidades cumpriam em Dezembro passado estas normas, ou seja: Guimarães, Maternidade Júlio Dinis, Santo António, S. João e Vila Nova de Gaia.

Luis Martins

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