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Algumas regras básicas: a polícia apenas deve agredir ou disparar em última instância e na medida estritamente necessária à protecção dos interesses de que é guardiã; não se bate numa mulher (esta é para todos, não só para polícias); um polícia não bate numa jornalista que não constitui ameaça para ninguém e está ali a fazer o seu trabalho, muito menos depois de esta cair a seguir a uma primeira agressão desse mesmo polícia. Foi no calor do momento? Havia alguns delinquentes a destruir uma esplanada? Era trabalho da polícia saber distinguir entre quem estava a agir mal e quem não estava, tratar de pacificar o momento e proteger, sim, proteger, os cidadãos inocentes. Com o seu desgraçado gesto, o polícia que agrediu repetidamente uma jornalista no Chiado, agarrando no bastão ao contrário para magoar mais, podendo assim bater-lhe com a parte metálica, acabou por mostrar que não estava ali para fazer o seu trabalho e que está mal preparado para o fazer. É felizmente uma excepção. Conseguiu contudo, mesmo que involuntariamente, uma coisa: é que, se não fosse o seu tresloucado gesto, mal se teria falado na greve geral.

Mais uma regra básica: não vem mal nenhum ao Mundo se as crianças de um infantário incluírem numa cantiga “viva o Benfica!”. Outra: o ridículo, associado com a estupidez, é uma arma de destruição maciça. A história chegou aos jornais e conta-se em duas linhas: uma educadora inventou um final alternativo para uma conhecida canção infantil, precisamente aquele “viva o Benfica!” Um pai, sisudamente adepto do Futebol Clube do Porto, decide apresentar queixa contra ela. Até aqui, nada de especial – há muita gente assim, que não perde uma oportunidade para se queixar e colecciona como troféus as suas reclamações. O pior é que o próprio Futebol Clube do Porto (FCP) se sentiu obrigado a emitir um comunicado oficial em que se rebela contra a tentativa de proselitismo que acha contida na versão da cantiga inventada pela professora e, recuperando um velho e falso chavão anti-benfiquista, queixa-se de procedimentos que acha próprios dos tempos da “outra senhora”. Para quem não saiba, queria o FCP referir-se aos tempos do Fascismo, em que o Benfica seria beneficiado pelo regime. É claro que este velho rifão apenas continua a ser esgrimido por imbecis ou por gente que, como Goebbels, acha que a melhor forma de transformar uma mentira em verdade é repeti-la muitas vezes. Quem se lembra sabe que é mentira (o Benfica é possivelmente o mais democrático clube português) e lembra-se de que queixinhas como a do pai da Ericeira, ridiculamente amplificadas pelo FCP, eram no tempo da “outra senhora” qualificadas de “pidescas”.

Por: António Ferreira

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