Arquivo

Haja Dinheiro

Luís Filipe Menezes apresenta como principal jóia do seu currículo político a sua experiência autárquica em Vila Nova de Gaia. Não são poucos os que o elogiam como autarca, esperando que ele transponha agora para o país o, dizem, brilhante trabalho feito naquele concelho nos últimos anos. Dizem os mesmos que Gaia está agora muito mais cosmopolita, mais dinâmica. Dizem outros que está falida, que tem um endividamento recorde, impossível de pagar recorrendo aos meios tradicionais e que, em breve, vai estar financeiramente estrangulada. Se tudo correr bem a Menezes, nessa altura já ele será primeiro ministro e já terá encontrado um qualquer bode expiatório que possa ficar com as culpas do previsível desastre.

Temos à vista uma reedição do caso Santana Lopes? Tudo parece indicá-lo. Com este, também a Figueira da Foz ficou no “mapa”, mostrou “dinamismo”, se tornou “cosmopolita”. Também aqui o endividamento foi brutal, mesmo que muito inferior ao endividamento de Lisboa, etapa seguinte do percurso autárquico de Santana Lopes, bruscamente interrompido pela sua ida para presidente do governo, onde aplicou ao país a mesma receita com os resultados que se sabem e de que ainda não recuperámos. Tem por isto alguma graça, embora mais do campo do humor negro, a recente aliança entre Lopes e Menezes.

Também na Madeira se exibe obra feita e de novo com a mesma receita: endividamento e despesa como se nunca fosse preciso pagar a factura. De vez em quando ameaça-se o governo da República com a bomba da secessão, o que originou já alguns perdões de dívida, da imensa dívida madeirense.

É verdade que é necessário investir, que muitas vezes não há desenvolvimento se não for o sector público a assumir o papel de motor. Mas é também verdade que é preciso fazer contas antes de investir e, antes de mais, assegurar as receitas para o pagamento desse investimento e das dívidas que se contraíram para o concretizar. Isto, claro, assumindo que os investimentos são pertinentes e necessários.

A recente crise do mercado imobiliário, em que milhões de famílias em todo o mundo se vêm na perspectiva de perder a sua casa ou as suas poupanças mostra bem o futuro normal desse tipo de gestão, daquele em que se pede emprestado e compra e gasta como se não houvesse consequências.

É por isso inquietante ver Menezes falar como o fez há dias na RTP, quando foi confrontado com as muitas reivindicações das muitas classes e grupos profissionais que agora reclamam perante o governo e mostrou simpatia para com todos.

Entretanto, vai começar a chegar dinheiro a rodos da União Europeia. O Quadro de Referência Estratégica Nacional (QREN), criado para o aplicar, vai começar a aceitar projectos. Esse dinheiro pode ser bem aplicado, ou constituir o último grande desperdício da nossa história. Mas vai fazer sonhar muita gente.

Por: António Ferreira

Sobre o autor

Leave a Reply