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«Habitantes têm poucas raízes em São Miguel»

Cara a Cara – Entrevista

P – Porquê fazer uma caracterização da população da freguesia de São Miguel?

R – Nesta área do apoio social, as candidaturas têm que ser feitas com base num diagnóstico social das comunidades a que se destinam. Como não tínhamos, o NDS avançou com este estudo para conhecer melhor a realidade da freguesia e poder, doravante, identificar as áreas de actuação prioritárias e as problemáticas. Trata-se de uma base de dados que vai ser reavaliada de forma contínua e poderá ser o fundamento para projectos futuros.

P – Para além deste aspecto, por que é que houve esta necessidade de conhecer a população? Até porque é a única freguesia da Guarda que está a fazer este trabalho?

R – Partiu um pouco do facto do NDS, enquanto instituição particular de solidariedade social, não conhecer o âmbito e as condições em que vivem os habitantes de São Miguel. Por outro lado, este diagnóstico também pode servir para outras instituições que trabalham connosco, já que são parceiras no projecto “Entre Famílias” mais quatro associações e a Junta de Freguesia. A partir de agora, estas entidades também podem candidatar-se a programas com este diagnóstico, que vai ser disponibilizado numa página da Internet.

P – Dos elementos que já têm, como se caracteriza a população de São Miguel?

R – É uma freguesia jovem, sem muitos idosos. É rejuvenescida, pelo menos, porque é uma zona que tem ganho bastante população nos últimos anos. A situação é diferente nas anexas (Carapito de São Salvador e Cabreira), onde há um número elevado de pessoas idosas e de desempregados. Segundo os Censos, entre 91 e 2001, São Miguel cresceu 30 por cento em termos de habitantes. É gente que vem de freguesias limítrofes, do concelho da Guarda, e são, por norma, pessoas em idade de trabalho. Contudo, a grande maioria não trabalha aqui, que é mais uma zona dormitório da cidade. Por outro lado, também não reconhecem que haja muitas potencialidades na freguesia, não têm espírito associativo e nem sequer sabem que existem associações ou o que fazem. São muito poucas as pessoas ligadas ou sócias de uma colectividade local, isto porque pensam que servem para os mais carenciados. Mas nós temos formações que interessam a todos, como o ATL, serviço de apoio domiciliário, ateliers ou formação desportiva.

P – E em termos de habilitações?

R – As habilitações médias da população andarão pelo primeiro e segundo ciclo, pelo que são pessoas que trabalham em sectores de mão de obra não muito qualificada, caso da Delphi, sediada na freguesia. Regista-se também um número significativo de domésticas e agregados em que só um elemento da família trabalha. Relativamente ao número de pessoas do agregado, o valor mais representativo é de três a quatro elementos. Quanto aos rendimentos que auferem e a saber se chegam ou não para as despesas mensais, a maioria respondeu que chega para as despesas, ou seja, não sobra.

P – O estudo também caracterizou as habitações. Quais são as principais conclusões?

R – A grande maioria disse estar a morar em casa própria e, de uma maneira geral, gostam dela, não lhe apontando grandes defeitos. No entanto, nas anexas registam-se vários casos de habitações sem o mínimo de condições, nomeadamente de falta de água canalizada e luz.

P – Há alguma explicação para este surto de crescimento populacional da freguesia?

R – Para além da Delphi há o factor espaço, uma vez que, lá em cima, a cidade já começa a ter poucas zonas onde ainda se pode construir. Por outro lado, também não podemos esquecer o elemento preço da habitação.

P – Qual é a população actual de São Miguel?

R – Neste momento é quase de sete mil pessoas, quando era de pouco mais de cinco mil em 1991. Mas nota-se um grande desfazamento entre o número de recenseados e o de habitantes. Isto é, são pessoas que não têm muitas raízes na própria freguesia.

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