Arquivo

«Há uma certa água tépida na campanha»

Comissão sindical da Sotave, em Manteigas, está pessimista quanto ao futuro da empresa

O quinto dia de campanha terminou em Manteigas, numa reunião informal com a comissão sindical da empresa Sotave, na delegação sindical de Manteigas. João Abreu começou por colocar as propostas em cima da mesa, sugerindo a criação de uma Operação Integrada de Desenvolvimento para a Corda da Serra, que contempla, entre outras, a vila de Manteigas. Depois foi a vez do dirigente sindical, Armandino Susano, explicar a situação actual da Sotave. O desânimo tomou então conta do dirigente: «As coisas estão muito mal, hoje pensávamos que os trabalhadores recebiam o salário em atraso, mas ainda não foi desta», desabafou. E logo Armandino Susano acrescentou que também ainda não receberam o subsídio de Natal. Para o dirigente sindical, a má situação financeira da empresa deve-se à conjunção de três factores: «A inexperiência da nova administração, o litígio com a anterior e a própria situação económica do país», refere, acrescentando que as encomendas «não faltam». A Sotave tem cerca de 280 trabalhadores, «o que significa 50 por cento da população activa de Manteigas», contabiliza, por alto, o dirigente sindical. O candidato vai tirando algumas notas e pergunta: «Porque é que ainda que não se modernizou? Já recorreu ao apoio do programa Face ou a outros?». Mas a estas questões o dirigente sindical encolhe os ombros e não sabe responder. «Nesta empresa, há muitas perguntas que não têm resposta», sublinha Armandino Susano.

«Será uma catástrofe social e económica para Manteigas se a empresa não se modernizar», receia João Abreu, que já solicitou um encontro com a administração para «os apertar». Só que ainda não há data definitiva: «Era para ser hoje, mas não foi possível por parte da administração», explica o cabeça de lista, para quem «o problema da gestão controlada é que ninguém controla nada», como aconteceu com a Gartêxtil (Guarda) ou a Bellino & Bellino (Gouveia). «Dantes o Governo estava de “tanga”, agora está de “tanguinha”», ironiza o cabeça de lista da CDU que já tem como dado adquirido a vitória do PS e a derrota da direita. Entretanto, a campanha continua assente no porta-a-porta, no contacto com empresas e trabalhadores, e outras iniciativas temáticas. «Vamos queimar todos os cartuchos para chegar a mais eleitores», garante João Abreu.

CDU insiste na Operação Integrada de Desenvolvimento

A CDU apresentou na semana passada uma Operação Integrada de Desenvolvimento para a corda da serra onde propõe medidas para «regenerar» o sector têxtil e «dinamizar» o sector produtivo instalado na região. A Coligação Democrática Unitária compromete-se a levar algumas propostas à discussão na Assembleia da República, como a necessidade de promover esta operação Integrada nos concelhos da Guarda, Gouveia, Seia e Manteigas, Covilhã e Belmonte. O objectivo é desbloquear um «conjunto de acções estratégicas e de todos os instrumentos disponíveis para permitir a mais rápida resolução dos problemas económicos, sociais e culturais da região, designadamente através da adopção de um programa orientado para a modernização e diversificação do tecido produtivo e para a mobilização do investimento público e privado». A CDU pretende ainda que o Governo assuma o compromisso de accionar junto da União Europeia a cláusula de salvaguarda para o sector têxtil nacional. Para além destas medidas, reclama a criação de uma comissão de acompanhamento para as empresas em processo de recuperação, que integre os representantes dos trabalhadores, e se proceda à concentração «num único organismo» dos diferentes programas com incidência na região. Tudo porque nos últimos anos têm vindo a crescer os salários em atraso, os encerramentos, as falências de empresas e o desemprego, um cenário que vai complicar-se com a adesão da China à OMC e o levantamento das restrições à entrada dos têxteis asiáticos na União Europeia.

Sobre o autor

Leave a Reply