Os benefícios de se aprofundar a relação entre gastronomia e património, bem como o importante papel que as confrarias podem ter no desenvolvimento das economias locais, foram duas das principais conclusões do Iº Encontro das Confrarias das Beiras, realizado no sábado em Trancoso.
A iniciativa promovida pela Confraria das Sardinhas Doces teve como tema “Mudanças e Estratégias das Confrarias para o desenvolvimento das Regiões” e reuniu oradores de diferentes áreas. A presidente da Confraria da Doçaria Conventual de Tentúgal (Montemor-o-Velho) sublinhou que, «criadas com o propósito de divulgar produtos gastronómicos», as confrarias «têm assumido um papel próprio de divulgação cultural». Olga Cavaleiro frisou a importância de se «escoarem» os produtos divulgados «para as grandes cidades», o que trará «benefícios para os produtores e para os consumidores» que podem apreciar «produtos de elevada qualidade». Considerou, por isso, que «há um casamento feliz entre gastronomia e património», uma vez que, «atrás do estômago, vamos a muitos locais e acabamos por ver património». A socióloga mostrou-se apologista de se «envolver mais dinheiro em ações como este encontro e não nos capítulos», até porque o produto «é muito mais do que o seu sabor» e não deve haver «bairrismos exacerbados» entre as diferentes confrarias.
Por seu turno, o cientista Carvalho Rodrigues realçou que as confrarias têm o «papel essencial de demonstrar o quanto o local é importante», sustentando a mais-valia da cooperação entre aquelas organizações. O professor defendeu também que as confrarias são «muito mais do que gastronomia» e que devem ser «guerrilheiras contra a crise», lançando o repto à anfitriã de que, «se “ameaçarem” com uma sardinha doce, não há ninguém que não coopere». Já o diretor de O INTERIOR defendeu que se devem valorizar todas as confrarias e «ainda mais aquelas que promovem os produtos endógenos» das respetivas regiões. Luís Baptista-Martins sublinhou que a gastronomia e os vinhos são um dos dez produtos turísticos que constam do Plano Estratégico Nacional de Turismo, declarando que as confrarias são «uma forma de “networking” impressionante para promover o produto», podendo «contribuir para a valorização dos produtos locais e para o desenvolvimento socioeconómico da região».
Na abertura dos trabalhos, Conceição Alexandre, presidente da Confraria das Sardinhas Doces, disse esperar que este fosse «o primeiro de muitos encontros» para refletir sobre a atividade e o futuro das confrarias. O mesmo sustentou o autarca local Júlio Sarmento, para quem ser confrade – como é o seu caso – é uma «missão muito responsabilizante».
Ricardo Cordeiro