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Há tanta coisa que não compreendo

Bilhete Postal

Vou tentar explicar o que não entendo.

Não entendo 1 milhão de desempregados.

Não percebo o crédito mal parado a crescer.

Não percebo o fim dos direitos dos trabalhadores.

Não percebo que seja um problema o salário de 500 euros.

Não entendo onde puseram 70 mil milhões de euros.

Não percebo o TGV onde nunca vou andar.

Não vou engolir os submarinos de mil milhões.

Não quero ter dinheiro nos bancos endividados.

Não percebo que quem trabalhe seja O problema

e quem gere mal seja solução.

Vou tentar dizer o que não percebo.

Que a população não tenha médico assistente.

Que haja tantos vintes no secundário.

Que com tantos vintes não se chegue a médico.

Que um médico ganhe 12 euros por hora.

Que um advogado cobre 500 euros pela mesma hora.

Que o diretor da CGD receba mais de 2.000 euros

por uma hora igual.

E para ser diretor da CGD pode entrar na Faculdade com 12.

E para outros ganharem 12 euros têm de ter 18,5 valores.

Não, eu não compreendo.

Não percebo que quem não sabe governe.

Que haja dirigentes sindicais eternos.

Mais antigos que Presidentes de Câmara.

Mais gastos que o Presidente da Madeira.

Que entre eles criem concertação insocial.

Não percebo os energúmenos que chegam a diretores.

Não percebo os consensos em torno da mediocridade.

Não percebo os tipos moles e cheios de medo

Medo de patrões incultos, burros, desorientados.

Não percebo que venham médicos de família da Colômbia

e não cheguem juízes do Brasil.

Não entendo que a vida seja menos prioritária que a justiça.

Não entendo os anos que demora julgar uma estupidez.

Não percebo que um comportamento ilícito não seja punido.

Não percebo que não haja educação física nas primárias.

Não entendo que não se invista num ensino rígido, duro,

Que não se premeie os melhores.

Não percebo a confusão que anda nas escolas.

A presença de medo em quem ensina.

Não aceito a descompostura dos jovens na rua.

Não percebo que não acabem com os arrumadores de carros.

Não compreendo que não se termine a exploração da beira da estrada.

Não percebo porque falham todas estas instituições

que nos deviam dar uma vida mais transparente.

E não compreendo este jornalismo arrogante

Estas horas de programas de futebol.

E não percebo a presença de donos da nossa água

Nem de gestores chorudos da nossa luz.

E preços inacreditáveis dos telefones.

Eu gostava de perceber muito mais de tudo isto

mas cada vez percebo menos e fico mais confuso.

Por: Diogo Cabrita

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