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Há festa na cidade

Pois, Pois

As festas da cidade estão de volta depois de vários anos de ausência. Supostamente, antes a Câmara não tinha dinheiro para as fazer, agora também não tem mas decidiu fazê-las à mesma. E fez bem. Muito bem. Todas as autarquias realizam por esse país fora este tipo de festejos, muitas vezes em colaboração com a Associação Comercial lá do sítio. Estranhamente, não é o caso na Guarda. Qual é a justificação? Bem, agora isso também não interessa muito. O que interessa é que, e como seria de esperar, se vêem centenas e centenas (milhares?) de pessoas na rua, todos os dias. O povo estava ansioso que lhe dessem um pretexto para vir para a rua conviver. Estávamos todos a precisar disto, há muito tempo. Ter a festa a decorrer em vários pontos da cidade foi boa ideia. A BeiraArtesanato do Nerga ter-se deslocado para o Jardim José de Lemos foi excelente. E o programa das festas parece-me bastante adequado. Parabéns. Todos ganham, a começar pelos comerciantes que souberem aproveitar o momento. E a seguir? É preciso fazer alguma coisa para dinamizar o centro, atraindo as pessoas. Está visto que se lhes derem um bom argumento as pessoas aderem em massa.

Infelizmente, há sempre alguns intelectuais subdesenvolvidos que olham com desdém este tipo de festas. São com certeza os mesmos que criticavam os portugueses por passarem duas horas por dia a beber cerveja e a trincar tremoços enquanto viam os jogos do mundial. O argumento é invariavelmente o mesmo: este tipo de divertimento contribui para a alienação do povo, que quer é circo para “escapar”à dura realidade das coisas. Este paleio é recorrente nas elites nacionais, que vêem nesta vontade de diversão um sinal e uma causa de atraso indígena. Parece que só se é civilizado e desenvolvido quando em vez do João Braga ou dos GNR se prefere ouvir Brahms ou em vez do Fernando Mendes se prefere uma adaptação de uma peça de Bertolt Brecht encenada pelo cabotino Luís Miguel Cintra. Não lhes ocorre que os franceses, os ingleses ou os alemães ligam tanto ou mais ao futebol do que os portugueses. E que estes povos “atrasados” (presume-se) também têm as suas festas populares e também gostam de se “alienar”.

Não, se há algum sinal do atraso português nesta velha história ele está no comportamento e nos comentários da pseudo-elite que se sente no direito de nos pastorear e que, ela sim, é atrasada e incompetente. Se o país está no estado em que está, não é devido à “mentalidade do povo” – a velha desculpa das elites para justificar a sua incompetência e os seus erros – mas às fracas elites que sempre nos governaram e que, arrogantemente, se acham no direito de nos querer “educar”.

Por: José Carlos Alexandre

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