Portugal, um pequeno país da periferia da Europa, pobre e com uma população de apenas um milhão de habitantes, decidiu conquistar a 21 de agosto de 1415 a estratégica cidade portuária de Ceuta, situada no reino de Fez, no Magrebe. E iniciou um processo de expansão territorial, marítima, económica, política, militar e religiosa que o levou a afirmar-se como potência mundial e a controlar o comércio global durante mais de 100 anos, através da criação de um império marítimo em rede nos oceanos Atlântico, Índico e Pacífico.
Segundo o “Expresso”, não há um consenso académico sobre a principal motivação que levou o rei D. João I a tomar a decisão de conquistar Ceuta há 600 anos. Os historiadores apontam uma lista infindável de causas: os três filhos mais velhos do rei – D. Pedro, D. Duarte e D. Henrique – queriam ser armados cavaleiros em teatro de guerra e não num torneio; era preciso acabar com os ataques permanentes de piratas muçulmanos à costa portuguesa, nomeadamente no Algarve; Ceuta era um entreposto comercial estratégico onde afluíam especiarias, tecidos e outras riquezas do Oriente, os cereais de Marrocos e o ouro do Sudão; era uma base naval que dominava o estreito de Gibraltar, porta do Mediterrâneo, e a sua posse representava a continuação natural da reconquista de território aos muçulmanos iniciada na Península Ibérica; a sua ocupação era a primeira etapa do “Plano das Índias” do infante D. Henrique; o domínio do estreito de Gibraltar abria o acesso a novas áreas de pesca e ao comércio de escravos; D. João I e a Casa de Avis precisavam de se afirmar a nível nacional e internacional perante as ameaças de invasão de Castela, e queriam ganhar simpatia e credibilidade junto do Papa e da Cristandade na sua luta contra o Islão; havia uma nobreza feudal desocupada, irrequieta, conflituosa e com ideais religiosos, que podia ser colocada ao serviço do rei com a promessa de cargos públicos, benesses, terras e enriquecimento em África.
O mais provável é que todas estas causas tenham contribuído de algum modo para a invasão da cidade marroquina, sem que nenhuma delas se destacasse. Mas ainda hoje se tiram lições geoestratégicas muito atuais da Expansão e dos Descobrimentos portugueses que inauguraram a Era Moderna, numa altura em que Portugal continua confrontado, tal como há 600 anos, com a mesma questão identitária: qual é o seu lugar na Europa e na globalização?
A aventura marroquina ainda continuou com a conquista de outras cidades como Arzila, em 1471, mas os portugueses viraram-se definitivamente para a criação de um império marítimo global.