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H5N1

Bilhete Postal

Imaginem que davam ao Henrique a possibilidade de escolher os que o vírus levava. Um tipo de que não gostasse estava garantido. «O vírus veio para lavar a sociedade», diria convicto. Um tipo cheio de certezas é isso mesmo, um afirmativo. O Henrique mandava-me de bónus para o vírus, e comigo iam alguns amigos que também não aprecia. Confesso que o compreendo e até gostava de vos fazer confidências sobre o que faria eu com o H5N1. O vírus levava garantido este Henrique e mais uns tantos que o apreciam. Depois, em garrafinhas pequenas, distribuía-o nalgumas Universidades e entre arrumadores de automóveis, gajos chatos, labregos arrogantes, bem como barulhentos noctívagos, cuspidores de chão, passeantes de cão doméstico, vereadores ladrões, engenheiros corruptos e outros géneros sociais. O H5N1 seria, nas mãos de Sócrates, um vendaval político e não uma gripe assassina. Com ele caía a oposição externa e depois a interna e por fim os pares incómodos e os fazedores de intrigas e má fama. Por tudo isto aprecio esse sinal não moderno da doença que é o espirro. Com o espirro, o H5N1 é livre e passeia entre nós como um aroma, indomável e brutal. Hoje todos escondemos o espirro para não sermos os portadores da maleita. Mas com espirros escolhemos os que vamos levar e por essa razão, hoje, ele é uma arma contra a burguesia. É uma arma que nos dá a possibilidade de escolher quem vamos mandar para o inferno. Com Sócrates fez-se antes a lista dos que não queremos que se apaguem. O H5N1 é um grande momento da democracia e das decisões do Governo. Estamos a estudar as decisões.

Por: Diogo Cabrita

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