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“Guerra” aberta contra portagens

Moratória das SCUT terminou e deixou a região à beira de um ataque de nervos

A contestação à introdução de portagens na A23 e A25 promete subir de tom nas próximas semanas. Terminada a moratória do sistema SCUT, as opiniões são convergentes na Beira Interior contra esta opção, com excepção dos autarcas da Covilhã e Fundão. Carlos Pinto e Manuel Frexes são as únicas vozes dissonantes e têm defendido ultimamente a colocação de portagens na A23 como forma de captar investimento. O covilhanense chegou mesmo a dizer que o IC6 (Covilhã-Coimbra) ainda não se fez porque o Estado «não tem orçamento», numa indirecta aos custos das SCUT. Já Manuel Frexes explicou que aceitava algumas portagens naquela autoestrada «desde que o Governo crie um plano de reabilitação das estradas interconcelhias».

Contudo, estas são duas vozes à parte num imenso coro de protestos, onde não falta sequer Ana Manso. A líder da distrital da Guarda do PSD e também deputada, é peremptória e diz que «não é justo que seja exigido ao interior, pressionado pela desertificação, que contribua para o desenvolvimento nacional». Até porque esta região recebe em troca «a aplicação cega do princípio utilizador-pagador». Neste ponto, está de acordo com Fernando Cabral, presidente da Federação da Guarda do PS, que continua à espera que os nove deputados do PSD e PP eleitos pelos distritos de Castelo Branco Guarda e Viseu votem contra as portagens na A23 e A25. «As portagens ferem as capacidades competitivas das empresas existentes e desmotivam os potenciais investidores», para além «destes novos impostos serem um abuso e um erro desnecessário», considera o socialista. Quem não está a gostar nada do cenário que se avizinha é Maria do Carmo Borges. Os seus receios quanto ao impacto desta decisão no projecto da Plataforma Logística estão quase a confirmar-se e a presidente da Câmara da Guarda nem quer ouvir falar em portagens, acusando o actual Governo de «faltar à palavra» nesta matéria.

Governo deve honrar compromissos

Quem promete endurecer as formas de luta são as duas comissões de utentes contra as portagens na A23 e IP5/A25. Jorge Fael, porta-voz da primeira organização, considerou «absurda» a decisão do Governo e lembrou a falta de vias alternativas à autoestrada da Beira Interior. «Se este Governo não se demite, que o seja por quem de direito. É uma exigência que tem de estar em cima da mesa face ao que está a acontecer», sublinhou, questionando os critérios que vão nortear a anunciada discriminação para os residentes. «Isto não vai ser pacífico», avisou, apelando à mobilização das instituições e das pessoas contra esta decisão e que poderá passar tanto pela recolha de assinaturas, como por buzinões ou marchas lentas. Também a sua congénere do IP5 alertou o Governo para o facto de ter «aberto uma guerra» com os habitantes de Aveiro, Guarda e Viseu ao decidir introduzir portagens nas autoestradas SCUT. «Declarou-a e vai tê-la», promete Francisco Almeida, porta-voz da comissão, que espera uma «adesão em massa» às próximas iniciativas daquele movimento, nomeadamente um buzinão na cidade de Viseu (amanhã) e uma marcha lenta no IP5, em data ainda não divulgada. «Se o Governo tivesse apostado em construir uma autoestrada de raiz e deixasse ficar o IP5 poderia introduzir portagens à vontade. Mas assim não, ainda por cima porque não estão a construir uma verdadeira autoestrada, mas apenas a duplicar o IP5», frisou.

Para o presidente da Região de Turismo da Serra da Estrela (RTSE), a decisão do Governo vai pôr «portugueses contra portugueses». É que, segundo Jorge Patrão, «se Portugal não pode pagar a única autoestrada digna desse nome na Beira Interior, vamos discutir porque razões todos os portugueses pagam os défices anuais da Transtejo ou da Carris. E porque é que, por exemplo, as pontes sobre o Douro, no Porto, não têm portagens». Receoso de que o turismo na Beira Interior vai sair prejudicado, aquele responsável considera tratar-se de uma medida que «não vai contribuir em nada» para o equilíbrio nacional. Já o presidente da Assembleia Distrital da Guarda, João Mourato (PSD), considera que a instalação de portagens na A23 e A25 representam «um ónus que as populações não deveriam ser obrigadas a ter», reclamando, antes pelo contrário, uma discriminação positiva em relação às populações locais. O mesmo já não defende para quem viaja do estrangeiro e passe nas autoestradas da Beira Interior e das Beiras Litoral e Alta, assim como para as pessoas que visitem os distritos da Guarda ou Castelo Branco, sublinhando que esses «devem pagar portagens». Por outro lado, João Mourato recorda que o então primeiro-ministro, Durão Barroso, disse, aquando da abertura da A23, que esta autoestrada não iria ter portagens. Por isso, o também autarca da Mêda entende que deveriam «ser honrados os compromissos anteriormente assumidos pelo Governo de coligação».

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