A carta de risco de incêndios, traçada pelo Instituto Superior de Agronomia para a Direcção Geral de Florestas, revela que a região de Castelo Branco, Guarda e Viseu são os distritos do Centro do país que ostentam um risco “muito alto”. No entanto, são três zonas que não foram contempladas pelo protocolo assinado na semana passada entre ministro de Estado e da Defesa Nacional, Paulo Portas, e o ministro da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, Sevinate Pinto, segundo o qual o Exército Português vai disponibilizar 26.100 militares para acções de prevenção de fogos florestais.
A Câmara da Guarda já reagiu a essa omissão na chamada operação “Presença Solidária” com um documento enviado para as tutelas competentes «a protestar e a demonstrar o inconformismo pela não inclusão do concelho» nas medidas anunciadas de prevenção dos incêndios, explicou Álvaro Guerreiro, vice-presidente da autarquia. A decisão foi tomada por unanimidade na última reunião de Câmara, onde a situação foi considerada «muito preocupante». Até porque no ano passado o distrito registou o «maior número de incêndios a nível nacional», salienta o vice-presidente. Apesar de «não ter sido, felizmente, a região com mais área ardida», o que se deve, segundo Álvaro Guerreiro, ao «êxito e à prontidão» do combate aos fogos. Por isso, é «despropositado» que a região não seja incluída nessas medidas, até porque no ano passado houve algumas zonas do concelho que foram consideradas de «calamidade pública». E para que não se repita o cenário do ano passado a autarquia reclama «mais medidas práticas», pois a época dos incêndios está próxima e apesar de muitas medidas anunciadas «ainda não passaram do papel».
Prevê-se um ano pior que 2003
Para Fernando Andrade, presidente da Federação de Bombeiros do Distrito da Guarda e autarca de Aguiar da Beira, «não é de estranhar» o facto do grau de incidência de fogos florestais desta região ser de «alto risco», nomeadamente por causa do tipo de florestação que possui, « muito à base de resinosas», explica. No entanto, não compreende como é que a região não foi incluída nas medidas de prevenção anunciadas. Até porque o presidente da Federação antevê que este ano «seja pior» do que o transacto devido aos atrasos dos subsídios, à escassez e mau estado dos meios de combate, que «ainda não foram substituídos, nem compostos», e à «má situação financeira» das associações. A juntar a esses condicionalismos, existem outros factores, nomeadamente as perspectivas ao nível climático, que «não são animadoras», sublinha Fernando Andrade, que realça ainda que «sem meios e com estas condicionantes, este ano seja pior do que o ano passado». Porém, há a promessa governamental de que «até ao final do mês» as associações recebam o pagamento dos fogos florestais relativos à última época, confia o presidente da Federação.
Um pedido repetido no último domingo ao secretário de Estado Adjunto da Administração Interna, Pais de Sousa, durante as comemorações das bodas de ouro dos Voluntários de Aguiar da Beira. Uma oportunidade aproveitada para confrontar o governante com algumas preocupações, designadamente, a proximidade do período de incêndios e «a ausência de re-equipamento e escassez de meios», sublinha Fernando Andrade. No entanto, as respostas «já se faziam esperar», uma vez que Pais de Sousa invocou a situação financeira do país para dizer que o Governo vai proceder ao re-equipamento dos meios «dentro das possibilidades». «Já sabemos o que nos espera: é fazer a próxima época com os meios de que dispomos e esperar que, pelo menos, as viaturas perdidas sejam substituídas», lamenta-se o presidente da Federação.
Bom desempenho no combate aos incêndios
O facto da região da Guarda e Castelo Branco não ter sido contemplada pelas medidas do Governo também está a preocupar Fernando Matos, director do Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE). embora ainda espere que a região venha a ser abrangida por essas primeiras propostas. Contudo, a sua maior preocupação prende-se com a «articulação entre as entidades responsáveis», uma vez que a calamidade do ano passado aconteceu porque o «processo que não foi bem dirigido», argumenta. Apesar de admitir que «todos somos poucos» para o combate aos fogos, incluindo-se a si próprio, o director do PNSE apela para que «todos trabalhem na prevenção» como forma de evitar calamidades semelhantes às verificadas no ano passado.
O coordenador do Centro Distrital de Operações de Socorro da Guarda não foi surpreendido pelas conclusões da carta de risco de incêndios: «É a constatação de um facto», explica António Fonseca. O «elevado risco» de fogos florestais nesta região «é uma realidade de há muitos anos», acrescenta, recordando as condições morfológicas, as acessibilidades, a predominância de ventos de Leste, secos e quentes, a juntar às práticas habituais da população da região que utiliza o fogo para desmatar e renovar pastagens, resultam numa conjugação de factores desfavoráveis. Mas o facto da Guarda não ter sido inicialmente abrangida pelas medidas de prevenção leva António Fonseca a acreditar que foi pelo «bom desempenho no combate aos incêndios no ano passado», afirma. O responsável sublinha ainda que o distrito conta com um dispositivo especial com disponibilidade máxima, em média dois grupos de intervenção por cada corpo de bombeiros, o que é superior à média nacional. Apesar de estarem a «trabalhar nos limites», o coordenador assegura ter sido proposto um reforço para este ano, que consiste em mais três Grupos de Primeira Intervenção (GPI) e um Gabinete de Apoio (GAP).
Patrícia Correia