A Guarda e Alcains (Castelo Branco) vão ficar sem os laboratórios de qualidade alimentar e de sanidade animal e vegetal da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Centro (DRAPC). A medida já foi comunicada aos funcionários daqueles serviços com a justificação de que se trata de uma «decisão política», disse a O INTERIOR uma das funcionárias, que pediu para não ser identificada. «Não se entende como podem centralizar, é mais um serviço que se perde. A agricultura sai prejudicada», acrescenta a mesma fonte.
A estrutura da Guarda, sediada no edifício da DRAPC, no Bairro da Sra. dos Remédios, abrange os concelhos do Sabugal, Almeida, Figueira, Mêda, Trancoso, Pinhel e Guarda, prestando serviços a seis associações de agricultores, com um volume de cerca de 120 mil amostras por ano. Se a estes dados juntarmos Alcains, as amostras chegam quase às 500 mil, o que se traduz em receitas próprias para a DRAPC na ordem das dezenas de milhares de euros. «O processo vai ser mais moroso e vai implicar custos que, queiramos ou não, vão cair no “desgraçado” do produtor», sublinha o diretor técnico da Associação de Criadores de Ruminantes do Concelho da Guarda (Acriguarda). «Apesar de se bater na desertificação, continua-se a dificultar a vida aos agricultores que já estão nos limites do que podem fazer», lamenta Paulo Poço.
Caso o fecho da unidade guardense se confirme, as associações vão ter de acumular amostras que justifiquem uma ida a Lisboa: «Vai prejudicar em todos os sentidos: vamos atrasar os serviços que fazemos aqui, além de que estamos a falar em saúde pública», alerta o responsável. E não há alternativas: «Não nos permitem sequer negociar com um laboratório privado, temos de ir à DRAPC e somos obrigados a trabalhar com um laboratório do Estado», acrescenta. «O trabalho existe, o laboratório tem funcionários e as associações não os deixam passar “frio”», ironiza Paulo Poço, que recorda que a agricultura local é maioritariamente de «subsistência» e não tem a abrangência de outras zonas: «Estou bastante preocupado, mas ainda não nos foi comunicado oficialmente, pelo que estou em crer que as entidades oficiais da Guarda, e não só, vão lutar para que não saia daqui», espera.
Contactada por O INTERIOR, a diretora regional defendeu que «a DRAPC não tem competência própria para tomar a decisão» de encerrar os serviços em causa, atribuindo essa responsabilidade ao Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV): «A rede de laboratórios do país está a ser reavaliada, identificando formas de gestão adequadas para decidir os serviços a manter», adianta Adelina Martins, segundo a qual as análises serão feitas «se necessário» até haver decisão final. Quanto à provável centralização de serviços, bem como ao futuro dos 18 funcionários (14 em Alcains e quatro na Guarda), a responsável escusou-se a falar, reiterando que a decisão não é da competência da DRAPC.
«É preciso ter a noção que a reorganização administrativa tem em vista a eficácia e qualidade do serviço prestado. Os recursos humanos, no caso da Direção Regional, têm muito trabalho para fazer», afirma Adelina Martins. Contactada por O INTERIOR, a presidência do INIAV declinou esclarecer o assunto, alegando que «o processo se encontra em curso, sendo por isso prematuras as questões colocadas».
Sara Quelhas