A Guarda não integra a lista das estações intermédias da futura linha do comboio de alta velocidade entre Aveiro e Salamanca, aprovada recentemente em Conselho de Ministros. Quem ganhou a única paragem prevista antes da fronteira espanhola foi Viseu, uma decisão já esperada e que motivou nos últimos dias uma acesa troca de palavras entre Maria do Carmo Borges e Fernando Ruas. Mas enquanto os dois autarcas trocam acusações, Arménio Matias, presidente da Associação para o Desenvolvimento dos Transportes Ferroviários (ADFER), veio defender a criação de mais paragens nas futuras linhas de TGV, nomeadamente uma na «zona Guarda», por considerar que as dez estações propostas são insuficientes.
A escolha de Viseu está a suscitar as «maiores dúvidas» à presidente da Câmara da Guarda: «Tecnicamente, essa paragem não faz sentido. O comboio sai de Aveiro e tem que parar pouco depois em Viseu. Isso não lembra a ninguém», acusa Maria do Carmo, para quem a haver uma paragem, ela deve ser na Guarda. «Numa distância tão curta este comboio não deve parar em Viseu ou Vilar Formoso, mas sim nas proximidades da cidade. Só essa faz sentido», argumenta, lembrando a plataforma logística, e o consequente transporte de mercadorias, mas também a posição geoestratégica da Guarda no contexto rodoviário regional. «Com ligações por auto-estrada a Castelo Branco e a Viseu no futuro, sendo ainda a última cidade antes da fronteira espanhola, a Guarda é uma opção a privilegiar», reclama. Mas como a opção vai no sentido contrário, Maria do Carmo quer saber por que é que o Governo «teima em servir clientelas e agradar» ao presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) [Fernando Ruas], reclamando conhecer a fundamentação técnica da escolha de Viseu. Irónica, diz, no entanto, não estar preocupada, uma vez que quando a obra for iniciada «já não será este Governo que governa».
Comentários que o presidente da Câmara de Viseu já comentou, classificando a atitude de Maria do Carmo como «muito deselegante e reveladora de uma enorme falta de ética quando invoca a minha qualidade de presidente da ANMP para querer dizer que pressionei ou que fui privilegiado». Para Fernando Ruas, que se congratulou entretanto com a decisão, «nunca esteve prevista nenhuma paragem do TGV na Guarda, nem mesmo nos primeiros traçados elaborados no tempo dos Governos PS e na altura em que o presidente da Rede de Alta Velocidade (RAVE) era um socialista. Mais: Viseu aparece em todos os mapas que vieram da União Europeia, como local de paragem do TGV, e não a Guarda». Por isso o autarca pede mais «responsabilidade» à sua congénere em próximas tomadas de posição e que se deixe de comparações. «A Guarda ainda vai ter que “pedalar” muito para se ombrear com Viseu», sublinha Fernando Ruas, que recorda que Viseu é a «maior cidade» portuguesa sem acesso a uma ligação ferroviária. Nesse sentido, reclama prioridade para a construção do troço Aveiro-Viseu na futura linha de alta velocidade até Salamanca, que deverá estar concluída em 2015.
Suspeitas confirmaram-se
A Guarda parece ter perdido a “corrida” pelas estações intermédias nas principais cidades contíguas ao traçado entre Aveiro e Vilar Formoso. O deputado socialista Fernando Cabral já suspeitava disso em Novembro do ano passado num requerimento apresentado na Assembleia da República. Tanto mais que umas semanas antes em Viseu o ministro das Obras Públicas, Carmona Rodrigues, tinha dito que o traçado iria contemplar «em primeiro lugar» os grandes centros urbanos, onde há maior procura. E para tirar quaisquer dúvidas quanto à importância actual da “cidade de Viriato” acrescentou um rasgado elogio, aludindo ao seu desenvolvimento e crescimento populacional que fazem de Viseu um «pólo muito importante» no interior do país. «Também será, seguramente, uma das áreas que merecerá atenção», referiu na altura. Apesar destes sinais, quem ainda não perdeu a esperança é a social-democrata Ana Manso. A também vereadora da Câmara da Guarda acredita que as pretensões da cidade quanto a uma paragem do TGV «ainda não foram derrotadas», mas avisa que não se pode «cruzar os braços e desistir da luta».
Aveiro-Vilar Formoso custa 2.100 milhões de euros
Os primeiros dados de um estudo preliminar sobre a futura rede de Transportes de Alta Velocidade (TAV), encomendado pelo Ministério das Obras Públicas, Transportes e Habitação, revela que o troço Aveiro-Vilar Formoso, a construir até 2015, terá uma procura de 1,8 milhões de passageiros e deverá custar 2.100 milhões de euros. Estimativas que colocam o traçado pela Beira Alta, respectivamente, no quarto lugar das expectativas de potenciais passageiros e no terceiro lugar do “ranking” dos custos das quatro linhas previstas em Portugal.
Contudo, esta ligação faz parte das redes transeuropeias e está aprovada pela Comissão, referiu o ministro Carmona Rodrigues, em entrevista ao jornal “Público”, o que garante à partida uma comparticipação de 10 a 20 por cento do investimento total. Para além deste projecto transfronteiriço prioritário, a União Europeia aprovou na última terça-feira mais três, caso das linhas de comboio de alta velocidade (TGV) que ligam Lisboa a Madrid e ao Porto e esta última cidade a Vigo. Uma decisão que vai garantir entre 30 a 40 por cento de financiamento oriundo dos Fundos de Coesão, a que se somarão mais 15 a 20 por cento do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER). Ao Estado português caberá suportar 10 a 20 por cento do investimento total, calculado em 12,5 mil milhões de euros, segundo as contas do Ministro das Obras Públicas, Transportes e Habitação, apresentadas segunda-feira aos jornalistas. Durante a divulgação em detalhe do projecto do comboio de alta velocidade, Carmona Rodrigues explicou que o custo de 12,5 mil milhões de euros inclui o investimento em infraestruturas ferroviárias, material circulante, estações centrais e um custo médio da terceira travessia sobre o Tejo.
De acordo com o que ficou decidido na cimeira luso-espanhola deste fim-de-semana, o comboio de alta velocidade, com quatro ligações entre Portugal e Espanha e uma conexão entre Lisboa e Porto, vai começar a ser construído em 2006 e só deve estar totalmente terminado em 2018. O custo médio anual só em infraestruturas ferroviárias deve ascender a um valor entre os 650 e os 800 milhões de euros, afirmou o ministro das Obras Públicas. As parcerias público-privadas serão chamadas a assumir cerca de 15 a 30 por cento do custo total, ao mesmo tempo que o Banco Europeu de Investimento (BEI) financiará uma fatia de 15 a 20 por cento.
Luis Martins
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