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Guarda e Almeida criam Memorial de Aristides Sousa Mendes

Projecto vai complementar Rota das Judiarias para potenciar turismo judaico na região

Um centro de investigação e interpretação, na Guarda, da obra do cônsul português que salvou mais de 30 mil pessoas na IIª Guerra Mundial e uma lápide na estação de caminhos-de-ferro de Vilar Formoso com os nomes desses refugiados vão ser os “pilares” de um Memorial da Vida de Aristides Sousa Mendes, que deverá ficar pronto no final de 2008.

O projecto, que envolve as autarquias de Almeida e Guarda e a Região de Turismo da Serra da Estrela (RTSE), foi apresentado, na passada quinta-feira. O objectivo é homenagear o diplomata caído em desgraça após desobedecer a Salazar, em 1940, quando concedeu vistos a mais de 30 mil pessoas – 12 mil dos quais judeus – no consulado de Bordéus (França). A escolha destas duas localidades – que nada têm a ver com a história de Sousa Mendes – fica a dever-se ao facto desses refugiados terem entrado em Portugal pela fronteira de Vilar Formoso e passado pela Guarda. O Memorial ficará sediado no solar Teles de Vasconcelos, um edifício do século XVIII, próximo da Sé, onde funciona actualmente a Biblioteca Municipal da Guarda. Presente na cerimónia, o embaixador de Israel em Portugal, Aaron Ram, considerou que «o tempo restituiu a Sousa Mendes o que, por direito, lhe pertencia», definindo o cônsul como «um farol de luz num tempo de escuridão».

Para Joaquim Valente, interligar a Rota das Judiarias com o Centro de Investigação será um contributo «importantíssimo» para fomentar o turismo, «um vector importante para o desenvolvimento da região». O autarca da Guarda espera que esta iniciativa possa «puxar pela Serra da Estrela e projectá-la na Europa e no Mundo». No final da sua intervenção, o edil leu duas mensagens do primeiro-ministro José Sócrates e do Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados António Guterres, que manifestaram interesse em visitar o Memorial. Por sua vez, Jorge Patrão, presidente da RTSE, começou por recordar que o passado da Serra da Estrela é «muito rico em termos patrimoniais e históricos», recomendando a aposta no turismo cultural e, em particular, no judaico. É que as visitas de estrangeiros no Museu Judaico de Belmonte aumentaram 30 por cento no primeiro trimestre deste ano, exemplificou, registando o crescimento dos visitantes de origem judaica à região.

Mas nem só de números se pode viver: «Com este Memorial está em causa a dignidade do Estado português e também uma mensagem de humanidade», disse. Jorge Patrão espera agora que os investigadores analisem o que se passou em Bordéus no início dos anos 40 e descubram quem foram esses refugiados, cujos nomes deverão figurar no Memorial. Já Álvaro Sousa Mendes sublinhou que a iniciativa é «um hino à vida, contra os dramas brutais da guerra e dos refugiados». Muito emocionado, o neto do diplomata considerou que «estas memórias são importantes para que os horrores da II Guerra Mundial não se voltem a repetir» e anunciou que a Fundação Aristides Sousa Mendes, a que preside, tenciona recuperar o palacete do cônsul em Cabanas de Viriato e transformá-lo numa Casa Museu ou mesmo num Museu do Holocausto.

Luis Martins

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