Para não fugir à regra, a Guarda faz parte da lista de quatro distritos, juntamente com Castelo Branco, Coimbra e Viseu, que não registaram descidas na sinistralidade rodoviária. Apesar de terem sido contabilizados menos acidentes, o número de vítimas mortais aumentou e muito, sendo que nas estradas da Guarda, de Janeiro a Novembro, morreram mais 11 indivíduos do que em idêntico período do ano transacto. No caso do distrito albicastrense, o número de mortes manteve-se em 26, mas, em contrapartida, o de feridos graves subiu de 84 para 121. Para inverter esta assustadora tendência, Pedro Patrício, comandante da Brigada de Trânsito da Guarda, diz que é necessário apostar na formação contínua das pessoas, a começar pelos mais pequenos.
Nuno Magalhães, secretário de Estado da Administração Interna, participou na reunião da Comissão Distrital de Segurança Rodoviária (CDSR) da Guarda, realizada na semana passada, e ficou a saber que, em Novembro, o distrito registou 219 acidentes de que resultaram seis mortos, oito feridos graves e 51 ligeiros. O comandante da BT da Guarda apresentou um «levantamento» sobre os sinistros em que ocorreram mortes, tendo-se verificado que «perto de 80 por cento das vítimas residiam a menos de 10 quilómetros do local do acidente», logo conhecedoras da zona. Outro elemento que constitui uma novidade é a «notória transferência» de sinistralidade para as estradas secundárias e nacionais. Contudo, ao contrário da opinião generalizada, «não há nenhuma condição em especial» que justifique esta tendência, nem mesmo a alegada maior fiscalização de que é alvo, por exemplo, o IP5. Quanto ao aumento do número de mortos verificado durante o corrente ano, Pedro Patrício diz não haver «uma causa diagnosticada nem nenhum elemento específico» que justifiquem este incremento, já que analisados todos os casos registados, «não há nenhuma especificidade em comum», refere. Até porque, ao contrário de anos anteriores, o distrito ainda não apresenta nenhum “ponto negro”, existindo apenas uma zona de acumulação de acidentes mas de «baixa gravidade», ao quilómetro 159 do IP5, no sentido Celorico-Guarda, no final da subida do Alvendre.
Contudo, o comandante da BT frisa que o factor humano é o que «mais falha com bastante regularidade», daí defender a necessidade de uma «progressiva actualização» por parte dos automobilistas. «Tem que se insistir na formação das pessoas desde pequenas, mesmo ainda sem terem carta», reforça, pois só desta forma, e tal como sucede noutros países europeus, se poderá «intervir para que as pessoas tenham outro comportamento na estrada», garante. Já Nuno Magalhães, secretário de Estado da Administração Interna, culpou os condutores, «que têm que mudar o seu comportamento», pelo elevado número de acidentes registado no IP5, em consequência de um estudo elaborado pela Direcção Geral de Viação. Segundo esse documento, em cerca de 90 por cento dos acidentes, a principal causa do sinistro «é imputável ao condutor», sendo que «muitas das vezes» os acidentes ocorridos no IP5 resultam do facto dos automobilistas não terem em conta «as condições não só da própria estrada, mas também climatéricas», diz. Desta forma, e uma vez que o volume de tráfego é enorme, é também necessário «fazer essa pedagogia para que as pessoas percebam que não podem andar, ainda que com os mesmos limites de velocidades, nas mesmas circunstâncias nos mesmos locais», sublinha.
Quanto ao facto do distrito da Guarda ser um distrito que apresenta um número cada vez maior de mortos na estrada, Nuno Magalhães prefere não acreditar em situações ocasionais: «Podemos estar perante uma situação de mera coincidência e ser um ano mau, mas nestas coisas convém não confiar nas coincidências porque se trata de uma matéria muito séria», avisa, anunciando a necessidade de aprofundar o estudo apresentado com a vinda de um técnico da DGV para, em cooperação com a CDSR, se poder identificar melhor a razão de ser dos acidentes. O secretário de Estado adiantou ainda que a partir de hoje, e para preparar a operação de Natal e de Fim de Ano, a Brigada de Trânsito vai ter mais 50 motociclos de alta cilindrada, mais 34 viaturas e já tem mais homens nas estradas, com especial incidência no distrito da Guarda onde se «vai apostar muito» por ser um local de entrada dos imigrantes.
Ricardo Cordeiro