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Guarda celebra a memória e a Altitude

Produção do TMG revisita alguns dos momentos da história da cidade por ocasião dos 809 anos da cidade

São quase 400 os intervenientes na produção “Guarda – rádio memória”. O espectáculo vai comemorar o Dia da Cidade e será apresentado por três vezes. A primeira é amanhã à noite, no grande auditório do Teatro Municipal da Guarda (TMG) que, com a companhia Trigo Limpo Teatro ACERT, co-produziu o evento. Vídeo, música, representação, dança e humor vão passar em revista alguns dos acontecimentos mais importantes da história do município, e outras situações que poderiam muito bem ter acontecido.

Em palco, a crítica junta-se ao ambiente festivo que se quer em dia de aniversário. Em 2006, uma encomenda da Câmara nos mesmos moldes resultou na produção “Paixão e Utopia”. Desta vez, o espectáculo apresenta maior unidade entre as diversas cenas, ligando o 809º aniversário da cidade e os 60 anos da Rádio Altitude. «A rádio é uma referência, faz parte do património da cidade. Pensei que podíamos juntar estas duas efemérides neste sentido prático e criou-se uma emissão de rádio imaginária», refere Américo Rodrigues, coordenador-geral desta produção. Os textos – de António Godinho, Hélder Sequeira, Honorato Esteves, Norberto Gonçalves, Osório de Andrade, Rui Isidro e o próprio director do TMG – recordam Alberto Dinis da Fonseca (o antigo presidente da Câmara que criou o conceito de que “até o Anjo é da Guarda”), um Dom Quixote actualizado (muito mais pragmático e com negócios na área da energia eólica), Sousa Martins, Álvaro Gil Cabral, Américo Tomás (aquando da inauguração da fábrica da Renault) e até o “bispo traidor”.

Da cenografia – grandes transístores antigos – vão sair estes e outros personagens, a revelar várias estórias da história da cidade. Musicalmente, o hip-hop e os ranchos folclóricos “made in Guarda” vão contrapor-se em cena, juntando-se a eles uma orquestra de música ligeira que vai avivar temas do imaginário colectivo. Comparando com o espectáculo de há dois anos, Américo Rodrigues – que, no início, até julgava poder haver «uma continuidade quase lógica» – refere agora «diferenças ao nível da temática, mas também estéticas». Desta vez também há mais pessoas a participar, a componente ficcional é mais pesada e tem «momentos de maior crítica em relação à própria cidade», acrescenta o coordenador: «Uma crítica amigável, para rirmos de nós próprios, pois é um projecto que festeja a cidade. Quer celebrar o que de melhor tem a Guarda, mas, às vezes, temos de mostrar a antítese», considera.

Numa das cenas, uma senhora – convenientemente chamada “Guarda” – telefona para o programa de consultório sexual queixando-se da sua vida emocional: que é fria (na cama), que a acham feia e que ela própria também não gosta do que vê ao espelho.

Depois do “Paixão e Utopia” se ter centrado em Maria Barraca, o “Guarda: rádio memória” homenageia José Neto que, na Quinta da Taberna, usa uma pedra de xisto para escrever as suas recordações nas paredes. Reavivando o passado mais ou menos conhecido da cidade, Américo Rodrigues pretende suscitar um «sentimento de identificação» nos espectadores, pois vão sentir que «estamos a falar delas, da sua terra». No final, uma multidão de quase 400 “anjos da Guarda” celebrará, em palco, mais um aniversário da cidade mais alta.

Igor de Sousa Costa

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