Por enquanto o distrito da Guarda continua livre do nemátodo causador da doença do pinheiro. Apesar das suspeitas do surgimento da praga nalgumas zonas, nomeadamente em Famalicão da Serra, por enquanto a área abrangida pela Comissão Florestal do Nerga está livre desta maleita que ainda não tem cura e provoca a morte do pinheiro bravo em poucos meses. Contudo, a praga propaga-se rapidamente e o vale de Manteigas é das áreas «mais problemáticas» dada a elevada densidade de pinheiros ali existente.
Hugo Jóia, presidente da Comissão Florestal do Nerga, revela que foi feito, recentemente, um «levantamento exaustivo» para verificar se esta doença já se fazia sentir no distrito, tendo havido «umas análises que deram positivo inicialmente». Mas, feita a contra-prova, «verificou-se que as suspeitas não se confirmavam, pelo que actualmente é garantido que não há nenhum foco activo no distrito». Ainda assim, o responsável não deixa de alertar para o facto de estarmos numa zona de «ameaça e quarentena», tal como sucede em todo o país. No entanto, o distrito da Guarda é uma zona em que o pinheiro está «muito mal instalado», daí admitir que a doença «cá chegue calmamente». A zona «mais problemática» e, possivelmente, a primeira a ser afectada caso isso se verifique, é «todo o vale de Manteigas», uma área de baldios que possui «grandes manchas de pinheiro» e está situada «relativamente próxima» da zona do Pinhal, já afectada. De momento, a doença «não é curável», mas estão a ser feitas pesquisas para se «encontrar variedades genéticas resistentes».
Hugo Jóia avisa que se a doença chegar ao distrito «no próximo ano e meio a dois anos será prejudicial para a região», mas se aparecer depois poderá não ser tão nefasta, pois acredita que já terão sido encontradas «soluções e medidas preventivas». Até lá, «tudo vai depender dos comerciantes de madeira», bem como de todos os seus derivados, que são obrigados a fazer tratamentos, dispendiosos, como por exemplo, a aquisição de uma estufa de alta temperatura, caso encontrem algum foco desta praga nas árvores com que trabalham. No entanto, na sua opinião, o «grande perigo» está nas indústrias «muito pequenas, com quatro ou cinco trabalhadores, que não têm capacidade para fazer investimentos muito elevados» e que poderão encobrir o aparecimento do nemátodo. Porém, mesmo no caso de todas as recomendações serem cumpridas ao pormenor, a praga poderá chegar, por exemplo, através de um camião carregado de pinheiros infectados que atravesse a A25, até porque esta é uma praga «muito contagiante e que se propaga muito rapidamente», refere o presidente da Comissão Florestal do Nerga.
É que na zona de Alcácer do Sal, a primeira do país onde, em 1999, a doença provocou estragos, «teoricamente estava tudo pensado ao pormenor, mas alguma coisa correu mal no processo e a doença alastrou-se», lembra. De acordo com Hugo Jóia, há «incapacidade do Estado para cumprir o papel de fiscalizador, especialmente nas pequenas indústrias que muitas vezes nem licenciadas estão». Nesse sentido, apela a que as autoridades «não tenham um papel mais repressivo, em busca das coimas, mas incentivem antes as pessoas a denunciarem estas situações para que sejam eliminadas». Caso isto não suceda, «as pessoas vão ficar muito caladas no seu canto e não vamos conseguir controlar a doença», avisa.
O que é a doença do pinheiro?
Esta maleita é motivada por um insecto que causa um ataque no sistema vascular da árvore e que provoca a sua morte em poucos meses. Os únicos meios eficazes de luta contra o nemátodo consistem na detecção e eliminação das árvores com sintomas de declínio e respectivos sobrantes, essencialmente no Outono e Inverno, e controlo da população do insecto-vector, durante o seu período de voo (Primavera e Verão), de modo evitar a dispersão do nemátodo a outras árvores. O pinheiro bravo suporta a fileira do Pinho, uma das mais importantes do sector florestal, que apresenta um volume de vendas de 1.566 milhões de euros. 682 milhões de euros é o valor total das exportações desta fileira em Portugal e 123 milhões de euros é quanto poderá custar à fileira uma eventual proibição de exportação de madeira. A consequência mais visível é a depreciação no valor da madeira de pinho, que tem impacto no valor que é pago aos produtores. O cumprimento das medidas fitossanitárias por parte dos receptores de madeira obriga à aquisição de estufas de tratamento, necessárias para garantir a segurança da madeira. Estas acções encarecem o produto, o que em termos de competitividade resulta numa clara desvantagem.
Ricardo Cordeiro