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Guarda acolhe comemorações do Dia de Portugal

Programa vai ser elaborado pela respetiva Comissão Organizadora das Comemorações do Dia de Portugal, em sintonia com o município, mas é certo que por esses dias a cidade mais alta será a “capital” do país

Trinta e sete anos depois, a Guarda volta a ser o palco das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. A escolha do Presidente da República, Cavaco Silva, foi anunciada na última segunda-feira e já era esperada na cidade mais alta. «Foi algo por que me bati muito desde a minha eleição», confidenciou Álvaro Amaro na última reunião de Câmara, realizada nesse dia na freguesia de Panóias.

O autarca considerou que este 10 de junho é «um momento muito importante» para a Guarda, que tem uma «oportunidade única para se promover». Numa curta declaração, o edil regozijou-se por «tão nobre distinção» que coloca a cidade mais alta «no centro da afirmação da nossa portugalidade como pátria de muitas geografias culturais, sociais e económicas». Com estas cerimónias, Álvaro Amaro sublinha que a Guarda terá «mais um marco importante e inspirador para que toda a comunidade levante a sua autoestima e erga bem alto a bandeira da esperança e de Portugal», acrescentando que o momento será «um impulso determinante para que a esperança e determinação tomem conta do destino comum». O autarca não esquece o exemplo de Cavaco Silva «no caminho da coesão territorial e social como causa nacional» e acredita que esta é «uma distinção estimulante para a vida coletiva da cidade e constitui uma oportunidade de afirmar a suas potencialidades, a sua ímpar hospitalidade e o espírito empreendedor a caminho do futuro».

De resto, o presidente, que pôs termo a 37 anos de poder socialista na Câmara, sublinha que «o desenvolvimento estruturante da nossa existência coletiva precisa destes sinais de promoção de traços comuns de identidade que nos aproximem e nos unam em torno de uma nova visão de equidade e prosperidade». Como tal, Álvaro Amaro está confiante que da Guarda «se projetará uma nova ambição contra o estigma da interioridade e a negatividade como injustamente é observada». Também José Igreja se congratulou com a designação da cidade para anfitriã do 10 de junho. «Espero que não seja só festa, mas também uma ideia de progresso para o concelho», declarou o vereador socialista, recordando que a Guarda «é uma terra de emigração e do interior que o Governo deve tratar como deve ser e merece». Na sua opinião, esta é a oportunidade para que o país tenha «um conhecimento maior das nossas potencialidades». O programa das comemorações vai ser elaborado pela respetiva comissão, em sintonia com o município, mas é certo que por esses dias a Guarda será a “capital” de Portugal.

Esta será a segunda vez que a Guarda acolhe as comemorações oficiais do 10 de junho, depois de ter sido anfitriã em 1977, quando Ramalho Eanes ocupava o cargo de Presidente da República, nas primeiras cerimónias do Dia de Portugal realizadas depois do 25 de abril de 1974. Desse dia há um memorável discurso de Jorge de Sena, cujo tema continua na ordem do dia quase 37 anos depois. Fernando Pereira, colunista de O INTERIOR, recordou alguns trechos na edição de 14 de junho de 2012: «Esse vício centralista da nossa tradição administrativa – um dos vícios que Camões denunciou e castigou nos seus Lusíadas – deve ser eliminado e banido dos costumes portugueses, sem perda da autoridade central que deve manter unido um dos povos mais anárquicos do mundo e menos realistas quando de política se trata. Porque os portugueses são de um individualismo mórbido e infantil de meninos que nunca se libertaram do peso da mãezinha; e por isso disfarçam a sua insegurança adulta com a máscara da paixão cega, da obediência partidária não menos cega, ou do cinismo mais oportunista, quando se veem confrontados, como é o caso desde Abril de 1974, com a experiência da liberdade».

Ou ainda: «Sejamos francos e brutais. Há neste momento, milhões de portugueses dispersos pelo mundo em mais de um continente, e não só na Europa de que são mão-de-obra. O país pensa neles, e deseja recordar-se deles. Mas o país, pura e simplesmente, na situação económica que herdou e em que se encontra e toda a gente sabe desastrosa, não pode prescindir do dinheiro deles, ou do dinheiro que eles costumam enviar para a santa terrinha, ao contrário do que faziam e fazem portugueses do território nacional, que mandavam o seu dinheiro para o anonimato dos bancos da Suíça». Trinta e sete anos depois, quem tomará o lugar de Jorge de Sena?

Luis Martins A Guarda foi palco, em 1977, do primeiro 10 de junho pós 25 de abril de 1974

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