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Governo pode construir três novas hidroeléctricas no distrito da Guarda

Plano Nacional de Barragens deverá ser conhecido nos próximos dias e incluir os projectos de Girabolhos, Pêro Martins e Senhora de Monforte

O Plano Nacional de Barragens, que o Governo vai apresentar nos próximos dias, poderá incluir três grandes aproveitamentos hidroeléctricos no distrito da Guarda. São eles os projectos de Girabolhos (Seia), no rio Mondego, Pêro Martins e Senhora de Monforte, ambos no rio Côa e no município de Figueira de Castelo Rodrigo. Segundo o ministro do Ambiente, deverão ser identificados até 10 locais para a construção de novos empreendimentos em Portugal.

Na semana passada, o “Diário de Notícias” adiantava que algumas destas barragens deverão estar prontas em 2020 com o objectivo de aproveitar até 70 por cento do potencial hídrico português, «o que significa atingir os 7.000 megawatts de potência instalada, ou seja, terá de instalar mais 3.000 megawatts de nova potência. Neste momento, Portugal só explora 46 por cento do seu potencial», escrevia o jornal. O investimento previsto ainda não foi revelado, mas fonte ligada à elaboração do plano, citada pelo “DN”, referiu que o conjunto das 10 hidroeléctricas poderá custar entre 1,5 e dois mil milhões de euros. Também a localização das novas barragens não foi divulgada, embora o ministro Nunes Correia tenha levantado a ponta do véu quando aludiu à «preocupação em escolher locais que não fossem susceptíveis de gerar problemas de ordem ambiental, social ou até cultural». Estes critérios deverão evitar atrasos na construção, como aconteceu no Baixo Sabor, e excluem automaticamente o empreendimento da Senhora de Assedasse, um «aproveitamento fabuloso», como o classificou, em Março, Alfeu Sá Marques, presidente da Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos.

Para o Governo, as prioridades serão Foz Tua (rio Tua), Vidago Daivões e Fridão (Tâmega) e Girabolhos (Mondego). Quatro projectos que já faziam parte dos planos de expansão do sistema electroprodutor nacional da REN – Redes Energéticas Nacionais. A estes o “DN” acrescenta mais dois, em Linhares e Cela (rio Minho), colocando ainda como hipóteses as barragens do Alvito, Pêro Martins, Alvarenga e Senhora de Monforte. O que já é certo é que, após a sua divulgação, o plano estará em discussão pública. Em Dezembro de 2003 “O Interior” divulgou um estudo encomendado pela antiga Comissão de Coordenação da Região Centro (CCRC) que considerava as hidroeléctricas da Senhora de Assedasse (Gouveia), Girabolhos, Pêro Martins e Senhora de Monforte «imprescindíveis» a curto prazo ao desenvolvimento económico da região. Os especialistas analisaram os impactes de 14 grandes e médias barragens e concluíram ainda que o investimento nestes projectos seria determinante para incrementar o turismo e viabilizar a hortofruticultura de alto valor acrescentado, permitindo ainda regularizar os caudais – quer de cheias ou de esteais – ou ajudar no combate a incêndios.

Cinco barragens prioritárias no Mondego e Côa

O projecto da barragem da Senhora de Assedasse é o empreendimento hidroeléctrico mais vantajoso de um conjunto de 14 aproveitamentos de média e grande dimensão que a EDP admite vir a construir na região Centro. Esta conclusão resulta de um estudo realizado sobre os impactos negativos e positivos destes projectos e deu origem a uma lista por ordem de prioridades. A surpresa é que cinco das barragens consideradas prioritárias estão localizadas no distrito da Guarda. Assedasse, Girabolhos lideram a tabela, enquanto Pêro Martins (Figueira de Castelo Rodrigo) é considerada a quarta prioridade, já Atalaia (Pinhel) e Sra. de Monforte (Figueira de Castelo Rodrigo) ocupam respectivamente o oitavo e décimo lugar. Curiosamente, alguns destes empreendimentos estão na gaveta há mais de duas décadas. O estudo multidisciplinar foi encomendado pela antiga Comissão de Coordenação da Região Centro ao Instituto Pedro Nunes – Associação para a Inovação e Desenvolvimento em Ciência e Tecnologia, de Coimbra, e envolveu investigadores da universidade e especialistas de outras instituições.

O trabalho, realizado no âmbito do Programa Energético da Região Centro, teve como base a análise dos potenciais impactos (energéticos, económicos, agrícolas e ambientais) de cada projecto de barragem ou albufeira, bem como a sua importância enquanto reserva de água de qualidade e recurso no combate aos fogos florestais. Por último, os técnicos não se esqueceram de auscultar o interesse dos respectivos municípios em receber estes aproveitamentos hidroeléctricos, que, no caso da Guarda, poderão vir a ser implementados nos rios Mondego e Côa, como “O Interior” já noticiou por diversas ocasiões desde 2000. De resto, a ordenação final ainda teve em conta diferentes majorações consoante os impactos considerados, com destaque para a valia eléctrica. Critérios que permitiram realçar a importância estratégica e produtiva da Senhora de Assedasse.

A barragem integra o aproveitamento hidroeléctrico do Alto Mondego, também constituído pelos projectos de Girabolhos e Midões (Mangualde), mas, apesar dos benefícios [as primeiras estimativas apontavam para uma produção de 304 Gwh por hora, que corresponde a um por cento de toda a energia gasta na região Centro, o que poderá traduzir-se numa receita anual superior a 12 milhões de euros (perto de 2,5 milhões de contos)], a obra implicava demasiados impactos ambientais e paisagísticos negativos nos famosos Casais de Folgosinho ou no Covão da Ponte. O que terá ditado a sua exclusão do Plano Nacional de Barragens.

Luis Martins

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