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Goldman Sachs à portuguesa

Crónica Política

O que temos assistido é a uma colossal mistificação que, a coberto de um alegado recurso ao chamado Fundo de Resolução, tem em vista esconder a verdadeira natureza e consequência da intervenção. A ideia de que residiria nesse Fundo de Resolução (tutelado pelo Ministério das Finanças e Banco de Portugal) a solução encontrada – cujo montante ascende a escassas centenas de milhões de euros – constitui um embuste para enganar os portugueses.

Trata-se de esconder e iludir a drenagem, de facto, de 4,4 mil milhões de euros de empréstimo do Estado português – como é claramente referido pelo comunicado da Comissão Europeia – do chamado Fundo de Recapitalização que, inserido no pacote da “troika”, os portugueses e o país estão duramente a pagar com desemprego, cortes de salários e pensões, restrições nos direitos à saúde e à educação e aumento de impostos, inseparáveis de um insuportável custo do serviço da dívida.

Ao contrário de quem difunde a ideia de que esta operação não trará custos para o Estado, a verdade é que, para além dos custos que o país está a pagar com o Fundo de Recapitalização e de desenvolvimentos imprevisíveis, a não realização no futuro, com a venda do Novo Banco, do dinheiro público agora emprestado terá como consequência adicional, face à responsabilidade que a Caixa Geral de Depósitos tem no Fundo de Resolução, uma perda de recursos públicos que, independentemente de apuramento mais rigoroso, poderá representar uma elevada participação.

É revoltante que a pretexto da acalmia dos mercados, dos riscos de contaminação e da recuperação da confiança dos acionistas e depositantes, se vise uma vez mais – depois do buraco do BPN, da recapitalização com dinheiros públicos no BCP, BPI e BANIF – canalizar milhares de milhões de euros para cobrir o que devia ser coberto com a mobilização do incomensurável património, dos recursos e ativos dos principais acionistas do Grupo e do Banco Espírito Santo.

Afinal, os fazedores de opinião e muitos jornalistas especializados na área financeira também têm responsabilidades no “não discernimento” dos ditos pequenos investidores. Pela minha parte digo claramente que os que apregoaram o capitalismo popular, sendo a figura cimeira Cavaco Silva, são os primeiros responsáveis, naturalmente aqueles que buscam o lucro fácil, que não lutam por uma sociedade mais justa na distribuição da riqueza também são responsáveis, mas há os responsáveis pelo caminho do puro estado tóxico, o regulador, este personalizado no governador do Banco de Portugal, Carlos Costa e na CMVM, apesar da suspensão das ações do banco em bolsa.

Numa palavra, o Povo foi apanhado em mais uma “Goldman Sachs à portuguesa”. Na minha intervenção na última Assembleia Municipal da Guarda, acerca do empréstimo que a Câmara vai contrair, apelidei de agiotas do erário municipal uns quantos marginais financeiros vagamente conhecidos e cuja ação é sombria. Viviam na obscuridade mas eram tentaculares, surpresa total?! É importante que leiam um artigo: Os grupos económicos e financeiros antes e depois do 25 de Abril-http://www.omilitante.pcp.pt/pt/331/25_abril/891/Os-grupos-econ%C3%B3micos-e-financeiros-antes-e-depois-do-25-de-Abril.htm

Volvidos 40 anos da Revolução de Abril é bom lembrar o que se reivindicava e reivindica: “Os ricos que paguem a crise”, infelizmente decorrente das opções políticas do povo português não é o que acontece. A mudança é necessária para que não seja um engano histórico, este momento demonstra que não pagam, nem mesmo quando a crise é deles. A solução do “Novo Banco” está intimamente ligada aos contribuintes e chegará aos nossos bolsos mais cedo ou mais tarde. Os atores da crise, com património de milhares de milhões de euros, ainda mantêm o seu suporte, o Governo mais liberal e anti-Abril, basta verificar a vontade de roubar os mesmos de sempre, os trabalhadores. Preocupam-se com a máquina fiscal para cobrança de taxas moderadoras e portagens, mas tardam no combate à fraude e evasão fiscal, esta bem plasmada nos agiotas financeiros que têm cobertura legislativa e governativa.

Por: Honorato Robalo

* Dirigente da Direção da Organização Regional da Guarda do PCP

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