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Get Happy! A jovialidade de “Summer Stock”

Opinião – Ovo de Colombo

Quando o tempo começa a melhorar, vem-me aquela vontade irresistível de assistir a filmes coloridos com a nadadora Esther Williams. Sou um amante do bom tempo e logo ao primeiro sinal da Primavera começo a antecipar-me para a chegada apoteótica do estio. Além dos “aquamusicals” da Esther, um filme que também gosto de ver nesta época é o charmoso musical “Summer Stock” (1950).

Dirigido por um dos meus realizadores favoritos, Charles Walters, o filme conta com a dupla de luxo Judy Garland-Gene Kelly e com uma história simples e que funciona sempre, a típica “Let’s put on a show”. A isto, junta-se uma simpática quinta algures no interior dos EUA como cenário principal (magnificamente construída em estúdio) e, como não, um jovial technicolor. Não é dos melhores filmes de Judy ou Gene, mas, sendo produzido por Joe Pasternak, é certamente uma película alegre, carenciada de sofisticação e, como tal, prazerosa pela sua simplicidade. Como não podia “quase” deixar de ser, o argumento é previsível até mais não, mas o talento para a comédia de Judy e dois dos números musicais, em especial (o icónico Get Happy e o criativo momento em que Gene dança com folhas de um jornal), compensam perfeitamente qualquer banalidade.

A par das boas interpretações e dos divertidos números de dança, “Summer Stock” conta também com uma agradável fotografia e um guarda-roupa particularmente interessante se nos focarmos nos vestidos usados pela atriz secundária Gloria DeHaven. Estes foram exclusivamente desenhados pela maravilhosa Helen Rose, que tem o mérito de ter vestido a Elizabeth Taylor como ninguém. Não que os vestidinhos de Gloria sejam da alta-costura e sofisticados, mas com as suas cores vibrantes e o seu estilo algo campestre, resultam bastante apelativos. Por falar em Gloria DeHaven, quero frisar que é ela a razão que mais me faz apreciar “Summer Stock”, dado o charme que dela emana. É estranho que esta atraente e talentosa atriz, ainda que bastante conhecida, nunca se tenha convertido numa estrela suprema. Considero-a repleta de magnetismo e vivacidade.

Sendo, agora, menos simpático, tenho que apontar para a mediocridade das canções, o único aspeto que não me agrada particularmente (e que tem certo peso, dado tratar-se de um musical). Sei que não são poucos aqueles que apreciam “Get Happy” imensamente, mas, a meu ver, não há nada de musical no filme que seja digno de uma vénia. Se “Summer Stock” é um filme pautado pela alegria da ingenuidade, além de ter resultado bastante bem em termos de bilheteria, as circunstâncias em que foi realizado não podiam ter sido mais negras. Desde finais dos anos 40 que Judy estava a atravessar uma fase extremamente difícil da sua vida (dependência de drogas, álcool, etc.). Com este seu estado, marcado por faltas e atrasos no trabalho, era fácil de adivinhar que “Summer Stock” seria o seu último filme rodado na MGM. Nem Gene nem Walters estavam particularmente empolgados com o script mas, dado o seu respeito e amizade por Judy, decidiram dar luz verde ao filme. Ainda bem! “Summer Stock” é uma despedida risonha do longo caminho de tijolos amarelos que a eterna Dorothy atravessou pela casa do leão.

Miguel Moreira

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