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Gestor aventura-se na produção de mirtilos

Vítor Nunes deixou a sua atividade profissional para se dedicar à agricultura e à empresa Beiraberry, nas proximidades da Covilhã

Do escritório onde era gestor para o campo, foi a escolha de Vítor Nunes, que trocou o fato e a gravata pelas botas para se dedicar à produção de mirtilos.

O sonho já era antigo e a oportunidade de o concretizar surgiu em 2012, altura em que adquiriu uma propriedade no Ferro, nas proximidades da Covilhã, e se candidatou ao programa de apoio a jovens agricultores, acabando por nascer a Beiraberry. Vítor Nunes, antigo diretor-executivo da Associação Comercial da Guarda, podia ter optado por manter as suas atividades na área de gestão e ter alguém responsável pela quinta, «mas fiz uma opção e decidi dedicar-me a isto a tempo inteiro e acompanhar de perto no local», adianta.

O jovem produtor reconhece que esta não é uma vida fácil. Enquanto caminhava com um olhar atento sobre a sua plantação confidenciava a O INTERIOR que «é preciso paixão e quando gostamos de fazer uma coisa tudo se torna mais simples». Por isso, vê a nova atividade como um “hobby”, pois o «contacto com a agricultura sempre me agradou».

Vítor Nunes confessa que não faz a parte «mais dura» do trabalho, mas acrescenta que dedica o seu tempo «a gerir a exploração, sempre no terreno». É nesta época, entre maio e setembro, que a atividade lhe absorve mais tempo. O dia começa cedo, ainda de madrugada, para que às 6 horas se dê início à colheita dos frutos que só termina perto das 13 horas. Depois, há ainda que fazer a distribuição dos mirtilos colhidos. Quando começou, Vítor Nunes tinha «poucos conhecimentos técnicos» da agricultura e admite que cometeu «muitos erros de quem não sabe e está a começar». Também o facto de ter optado pela produção de mirtilos não foi fácil. «Se tivesse optado pela cereja ou pelo pêssego, dois frutos característicos da região, a tarefa teria sido facilitada com conversas e conselhos de outros produtores», refere Vítor Nunes, quis «aproveitar o “boom” dos mirtilos».

O negócio foi lançado em 2012 mas apenas em 2015 teve a primeira colheita, um total de 4,5 toneladas de fruta. Este ano a produção aumentou e os números podem chegar às sete toneladas, revela o jovem empresário. Olhando aos custos que tem com a quinta ao longo do ano, incluindo mão-de-obra, «o dinheiro que recebemos com esta temporada dá, mas há um investimento de 200 mil euros que tem de ser recuperado e vai demorar», refere. Ao todo a plantação tem um potencial para 40 ou 45 toneladas, podendo as plantas chegar aos dois metros de altura. «Trata-se de um investimento a longo prazo», esclarece, referindo que grande parte da produção é entregue à Cerfundão, que depois faz a comercialização para as grandes superfícies. No entanto, a maior fatia desta produção vai para o estrangeiro. «Em Portugal ainda não existe uma grande tradição no consumo de mirtilos», afirma Vítor Nunes.

A Beiraberry também vende a particulares, mas alargar a produção a outras frutas parece estar fora de questão. Atualmente Vítor Nunes tem 10.500 plantas em três hectares e «se surgir a oportunidade de adquirir mais um terreno posso alargar a plantação», pois só investindo na produção é possível «incentivar o consumo nacional e diminuir o custo de venda ao público».

Ana Eugénia Inácio

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