O fraco sector industrial da Guarda entrou em crise em Maio de 2002 com o fecho inesperado da Gartêxtil, uma das principais empregadoras do concelho. A administração da empresa da Estação demitiu-se de funções, numa altura em que já não tinha encomendas nem tecido em armazém, deixando as cerca de 190 trabalhadoras no desemprego. Foi o fim de muitas ilusões para empresários e funcionários, que viveram uma moratória de quatro anos desde que a Carveste adquiriu, em 1998, a Gartêxtil. Todas as aspirações desabaram na fábrica de confecção após quinze dias de férias forçadas, quando se tornaram por demais evidentes os sinais de uma crise inadiável por muito mais tempo.
O futuro ficou definitivamente comprometido no dia 3 de Junho, data em que deveriam regressar ao trabalho. As trabalhadoras, a maioria das quais com mais de dez anos de empresa, alguns casais, ficaram sem alternativas e foram para o desemprego sem receber o subsídio de férias em atraso desde o ano passado e com o mês de Maio por pagar. A administração alegou na altura que a Gartêxtil não tem dinheiro para os últimos salários, mas garantiu que ia tentar aderir a mais um plano de recuperação de empresas. Cenário que ainda não deu quaisquer resultados práticos. Depois de vários anúncios de abertura e propostas de aquisição, alguns trabalhadores decidiram em Dezembro último processar a administração. Depois de se despedirem com o fundamento dos salários em atraso, nove trabalhadores da Gartêxtil moveram uma acção judicial contra a administração da empresa afim de tentarem reaver os salários que já não recebem desde Maio de 2002. O Tribunal de Trabalho da Guarda notificou recentemente os últimos responsáveis da empresa da Guarda-Gare para regularizar a situação, mas o processo veio devolvido com aviso de recepção e a justificação de que teria sido nomeado outro administrador, neste caso, Francisco Cabral, dono da Carveste, empresa de confecções que adquiriu a Gartêxtil em 1998.
Mas após ter sido marcada uma nova auditoria para ouvir ambas as partes, o processo voltou a parar, uma vez que o empresário alegou ter rescindido com a empresa e que por isso já não fazia parte do seu Conselho de Administração aquando do encerramento. E perante a inexistência de um CA da Gartextil – ou impossibilidade de identificar os seus elementos -, o tribunal vai requerer a citação dos mesmos via edital, nas Junta de Freguesia da cidade e na imprensa local, com o objectivo de encontrar uma entidade ou alguém que represente a administração. Caso isso não aconteça, o juiz vai decidir pela condenação da empresa, que será obrigada a pagar as indemnizações devidas aos trabalhadores. Confrontado com esta situação, o sindicalista Carlos João, dirigente do STBA, sublinha que «ninguém pode impedir que os trabalhadores reclamem os seus direitos» e que o facto de muitos trabalhadores terem deixado de receber «complica ainda mais as coisas». Neste momento, pelo menos 20 trabalhadores já estarão «a viver este drama», adiantou, revelando ter agendado um encontro com os operários em situação «mais preocupante» para o próximo dia 8 de Janeiro no Centro de Emprego da Guarda, de forma a procurar-lhes uma ocupação através da formação profissional. «São pessoas que estão fartas de procurar alternativas de emprego, mas sem sucesso», refere.