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Fuga feliz

Após o Euro 2004 Figo e Rui Costa deixaram de representar a selecção nacional de futebol. Estes dois atletas, porventura dos mais dotados e talentosos de quantos surgiram, e que muito a propósito foram chamados de geração de ouro do futebol português, apesar de ainda terem muito para dar, preferiram afastar-se e deixar o caminho livre à renovação. Após o meio êxito e meio fracasso do Euro, decidiram que esse era o momento certo ou ideal para deixarem de dar a sua contribuição à selecção. O tema da finalização das carreiras desportivas, desde sempre tem feito as delicias do público e em particular da imprensa desportiva. Quantos não se lembrarão ainda das últimas voltas à França de Joaquim Agostinho? Já no ocaso da sua vida desportiva, teimou em correr sempre uma mais. Nessas últimas participações quase sempre abandonava. Diziam os franceses que saía pela “porta do cavalo”. Quando as forças lhe faltavam, o que na maior parte das vezes significava recolher ao carro vassoura, saía sem glória nem dignidade. Casos como o de Agostinho são comuns. Quem não se dá conta de que a teimosia de determinados atletas, em vez de os alcandorar a posições de relevo e de prestígio, os afunda num misto de dó e de piedade? Casos, como os de Fernanda Ribeiro, que se arrasta pelos Jogos Olímpicos, como o do capitão do FCP, Jorge Costa, que se arrasta pelo campo e pelas clínicas de recuperação, são casos evidentes de que já não se tem nem a idade nem a força suficiente. Estes fenómenos, muito próximos do narcisismo e do culto do ego, são mais generalizados do que à primeira vista se poderia pensar. A política é um campo que também não foge à regra. Seja a nível nacional, seja a nível local, é frequente darmos conta de pessoas que se agarram aos lugares, que fazem tudo por esticar ao máximo os seus períodos de influência. Bem presentemente tivemos os episódios, quase tétricos, sobre o regresso ou não de Santana Lopes à Câmara de Lisboa. Num dia era dado certo no cargo, no dia imediatamente a seguir era dado como desertor. Por fim parece que o vil metal falou mais forte. Entretanto por cá, muitas e variadas reuniões se têm feito para apronto das equipas partidárias com vista ao jogo eleitoral das autárquicas. Também aqui tem havido gente que se agarra aos lugares como os náufragos se agarram às bóias em alto mar. De há muito que as saídas de mau gosto e a falta de preparação politica para os cargos, deveria ter funcionado como o alerta suficiente para as pessoas pelas próprias pernas se terem posto a andar e terem deixado lugar para que outros tentassem a sua sorte. Infelizmente não é isso que se tem passado. Atitudes déspotas e autistas têm impedido a regeneração de aparelhos e de equipas. Felizmente que nem tudo alinha pelo mesmo diapasão. A acreditar nas notícias de última hora parece que ainda vai sobrando um pouco de dignidade nas hostes de alguns partidos. Como já todos devem ter adivinhado refiro-me à corajosa e nobre atitude da actual presidente da Câmara da Guarda. Anunciar a retirada, ainda por cima num cenário altamente vantajoso, caso concorresse às eleições, é um sinal de que afinal nem tudo está podre no mundo da política. É um halo de ar fresco, que rejuvenesce e dignifica a função politica. Sair assim é ganhar para toda a vida.

Por: Fernando Badana

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