Está um frio de rachar e a Guarda foi uma vez mais notícia de primeira página. Nas imagens da tv (entre algumas em que se vê a neve mas que são de arquivo), vê-se o hospital da Guarda. Os doentes aparecem deitados em macas no meio de um corredor estreito, possivelmente esperando a sua vez de serem atendidos. A noite passada estiveram 12º graus abaixo de zero. Foi o máximo da mínima e o valor, embora não seja de desprezar, também não é nada de extraordinário. Talvez o vento tenha acentuado a sensação de desconforto, mas temperaturas como essas já não são nada de novo por aqui. Agora, sem vento, a temperatura continua a ser baixa mas já não faz tanta mossa. A sensação de frio já não é a mesma.
De toda a forma é nestas alturas que damos conta de que não estamos minimamente preparados para o frio. Seja ele seco, como é o caso de agora, ou quando vem sob a forma de neve e de gelo, como aconteceu há uns dias atrás, a situação complica-se em demasia. As casas não seguram o ar quente. As estradas tornam-se perigosas. As rotundas, com destaque para as que contêm fontes, tornam-se sítios de acidentes. Razão tinha um candidato à Câmara, há uns anos atrás, quando alertou para os perigos da instalação de fontes nas rotundas.
Desde acidentes de carros, a quedas no gelo, ou a gripes e fortes constipações, de tudo vai havendo um pouco. Aos mínimos flocos, ou arrefecimentos acentuados, as estradas ficam cortadas, os autocarros atravessados nas avenidas, as escolas encerram as portas e o hospital fica entupido de doentes. Nada disto é novo. Mesmo assim dá vontade de fazer algumas perguntas. Se todos sabemos que mais dia menos dia irá nevar ou arrefecer porque nada fazemos para nos preparar-mos para tal? Será porque até gostamos destes imprevistos? Desta fuga à rotina? Em tempos de outrora, quando a Guarda estava praticamente confinada ao seu actual perímetro histórico, até talvez fizesse sentido uma atitude assim. Um dia de neve era um dia diferente. Só que hoje tudo mudou. A deslocação das pessoas para a periferia trouxe a necessidade de deslocações constantes numa cidade essencialmente de serviços. De algumas ruas passou-se para uma rede de avenidas e de cinturas viárias. Como tal hoje é necessário enfrentar estes pequenos contratempos do tempo com eficácia e rapidez. Mas se dúvida houver sobre a mudança necessária, olhemos para os nossos vizinhos. A começar na atitude. É que enquanto nós reagimos eles antecipam. Em Salamanca ou em Cidade Rodrigo um dia de neve não é mais do que isso mesmo. No dia anterior e mesmo durante a queda de neve os limpa-neves encarregam-se de espalhar pelas estradas e ruas produtos que impedem a acumulação. Como resultado destas acções de prevenção tudo continua a funcionar. É que a vida a isso obriga. Não estará na hora de nos deixarmos de improvisações e começarmos também nós a antecipar os efeitos e a preparar as respostas para um ou outro dia de frio? Será assim tão difícil impedir que a neve se acumule nas estradas?
Por: Fernando Badana