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Frescos da Beira Interior em CD e DVD

Pinturas murais da região estão escondidas ou abandonadas e a precisar de intervenção urgente

Uma turma do 5º ano da Escola Superior de Artes Aplicadas de Castelo Branco (ESART) elaborou, no âmbito de um trabalho curricular, um levantamento da pintura mural da Beira Interior. E concluiu que a maioria dos frescos da região estão escondidos ou abandonados. O projecto contou com o apoio dos docentes e a colaboração da Direcção Regional de Castelo Branco do Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR). A compilação fotográfica e videográfica destes tesouros deu origem ao primeiro CD-Rom e DVD de “Frescos da Beira Interior”. O trabalho foi apresentado no 3º Fórum de Imagem, na passada quinta-feira.

No âmbito de uma disciplina relacionada com produção multimédia, os alunos realizaram um levantamento das pinturas murais da Beira Interior, «onde consta o inventário e o estudo individualizado», explica Ricardo Silva, um dos professores que colaborou na elaboração deste trabalho. «O levantamento patrimonial é uma lacuna na região da Beira Interior, pois não há nada realizado nesta área», sublinha o docente especializado em História da Arte. Mas por ser um trabalho académico, «não tem a profundidade que poderia ter», acrescenta, porque «o tempo escasseia e os alunos têm outros trabalhos para fazer». No entanto, este levantamento «promove a preservação e conservação» das pinturas murais e até se podem tirar outros dividendos, realça, como contrariar os assaltos às igrejas ou capelas, uma vez que esse património está agora catalogado através de imagens. Logo, «é mais fácil identificar os objectos roubados», considera.

Contudo, a grande maioria das pinturas murais da região estão escondidas, cobertas por cal ou atrás dos retábulos. Por isso, «é natural, que esta pintura seja suprimida da sua função a curto prazo», alerta o docente de História da Arte. Do vasto espólio abordado, destacam-se dois marcos em Belmonte, como a Capela do Divino Espírito Santo (Maçainhas) e a Igreja Matriz de Belmonte. «Até porque trazem algumas novidades em termos cronológicos», acrescenta. Realça também a Capela da Nossa Senhora de Oliveira, na Orca (Fundão), e a Capela de São Martinho da Covilhã, ambas marcadas pelas vicissitudes temporais. «Em ambos os casos é necessário uma intervenção urgente, pois as pinturas estão em risco de desaparecer», considera Ricardo Silva. Também na Capinha, ainda no concelho da Covilhã, foram encontrados alguns fragmentos significativos. Já na Beira Interior Norte foram surpreendidos com alguns pontos de «má conservação e degradação», caso da Igreja Paroquial do Colmeal, no vale da Marofa, «sem habitantes e sem telhado, cujos arcos estão quase a cair», lamenta o professor. No meio dessa degradação e esquecimento encontraram um conjunto mural de D. Sebastião. Em igual circunstância descobriram a Igreja de São Pedro de Casteição (Mêda), junto ao cemitério, um espaço completamente abandonado, «onde até a própria pintura está degradada», indica.

No entanto, uma das melhores pinturas murais da Beira Interior fica na Igreja de São Miguel de Malhada Sorda (Almeida). Trata-se de um conjunto pictórico que, «como é apanágio, está atrás do retábulo principal da capela-mor», revela. A criação de Adão, a partir do barro e do sopro de Deus, é parte de um vasto mural que se situa na capela fundeira daquela igreja e que tinha a função de um retábulo virtual, com uma mensagem própria: «Neste caso relaciona-se com a redenção do Homem», clarifica Ricardo Silva, que não esconde a motivação em dar continuidade a este trabalho, pois «falta um estudo aprofundado em termos de levantamento patrimonial».

Patrícia Correia

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