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Francisco Pinto Balsemão, Doutor Honoris Causa

O jornalista, político e empresário originário da Guarda

Ao ser agraciado com o título de doutor Honoris Causa «pelo seu mérito e obra desenvolvida em prol da comunicação social portuguesa, mas também pela consolidação de uma democracia livre e plural no nosso País», de acordo com nota da Reitoria da Universidade da Beira Interior, Francisco Pinto Balsemão, emocionado, fez «um vertiginoso regresso às origens, que, do lado paterno, são completamente beirãs».

O avô, também ele Francisco Pinto Balsemão, «que era republicano e esteve metido em sarilhos na ressaca do 31 de Janeiro», nasceu em 1855, em Alfaiates, a antiga vila do concelho do Sabugal. Ainda jovem estabeleceu-se na Guarda, casando com Luzia Patrício, filha de Francisco António Patrício, uma das mais importantes individualidades da Guarda da segunda metade do séc. XIX: foi Presidente da Câmara, com apenas 25 anos, Governador Civil do Distrito da Guarda e Provedor da Misericórdia, além de membro activo do Partido Regenerador na cidade. Francisco António Patrício era oriundo de Freixeda do Torrão, concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, e também bisavô de Teresa Patrício Gouveia (que foi Ministra da Cultura e Ministra dos Negócios Estrangeiros).

«O avô Balsemão e o bisavô Patrício» fundaram a Empresa de Luz Eléctrica responsável pela chegada da electricidade à Guarda, inaugurada simbolicamente em 1 de Janeiro de 1899. Foi também esta sociedade, entre Francisco Pinto Balsemão e Francisco António Patrício, que instalou a primeira rede de telefones da Guarda em 1902. Fundaram ainda, nesse período, a primeira grande fábrica de lanifícios do distrito, no Rio Diz, mais tarde também de tapetes, com a designação precisamente de Balsemão & Patrício. Estes dois antepassados do agora Doutor Honoris Causa interpretaram, como poucos, as mutações do seu tempo e apostaram no progresso: a electricidade, o telefone e a indústria.

O pai do homenageado, Henrique Pinto Balsemão, nasceu e estudou na Guarda até ao secundário partindo para Lisboa para continuar os seus estudos.

O próprio Francisco Pinto Balsemão, que nasceu em Lisboa a 1 de Setembro de 1937, e é trineto de Rodrigo Delfim Pereira, filho bastardo do rei D. Pedro IV, vinha assiduamente à Guarda, onde passou «muitos meses de férias desfrutados na casa de família», na Rua 31 de Janeiro.

Em 1969, e porque «já ninguém da família vivia na Guarda», decidiram oferecer «a mansão fechada» ao Instituto de São Miguel para apoio social – alberga actualmente o Jardim-de-infância e ATL de Santa Lúzia.

Também nesse ano, Pinto Balsemão aceitou o repto de ser candidato a deputado independente pela Acção Nacional Popular nas eleições legislativas e «não sendo por Lisboa, onde residia, só podia ser pela Guarda», fez questão de explicar durante o seu discurso na cerimónia. Tinha então 31 anos. Fez campanha eleitoral na região, foi eleito e durante dois anos, quinzenalmente, vinha à cidade onde recebia presidentes de Câmara e outros cidadãos de quem ouvia as preocupações e sugestões sobre as necessidades do distrito – no que foi precursor e poucas vezes repetido por outros deputados. Acabaria por abrandar essa actividade pela sensação de incapacidade em resolver os problemas prementes que lhe eram apresentados.

Advogado e jornalista no “Diário Popular”, fundou o Expresso em 1973, semanário que rapidamente se afirmou no panorama da imprensa nacional, defensor da liberdade de expressão, como poucos, não se dobrou perante a censura que até 1974 passava o “lápis azul” por muitos textos do jornal. Após o 25 de Abril, e perante as derivas revolucionárias do PREC, foi, como afirmou António Fidalgo, «directa e violentamente visado no famigerado discurso de Vasco Gonçalves em Almada, em 18 de Agosto de 1975, apelidado de “pasquim” e acusado de libertinagem informativa ao serviço das forças reaccionárias». A tudo isso, respondeu com trabalho e defesa da liberdade de expressão, dirigiu o Expresso até 1980. Foi um dos três fundadores do PPD, hoje PSD, de que é militante nº1, tendo participado activamente na vida política e partidária desde 1974. Chega ao Governo em 1980, como Ministro-Adjunto de Sá Carneiro. E em 5 de Janeiro de1981 toma posse como Primeiro-ministro do VII Governo Constitucional, após a morte trágica de Sá Carneiro em Camarate. Fica para a história ter sido durante o seu Governo, e por iniciativa sua, que foi aprovada a reforma da Constituição que retiraria da lei fundamental toda a carga ideológica, marxista, que a dominava, reduziu alguns poderes presidenciais e acabou com o Conselho da Revolução, de acordo com o princípio democrático de «fazer regressar os militares aos quartéis e devolver a vida política à sociedade civil». A 18 de Dezembro de 1982 pede a demissão do Governo depois de muitas divergências políticas com o então presidente da República, General Ramalho Eanes.

Afastou-se formalmente da vida política, sem nunca se distanciar, dedicando-se à actividade empresarial na área da comunicação. Há 18 anos, lançou a primeira empresa de televisão privada portuguesa: a SIC – Sociedade Independente de Comunicação – a “cereja em cima do bolo”. Com 73 anos, continua a presidir ao grupo empresarial que fundou e de que é o maior accionista: a Impresa.

Luis Baptista-Martins

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