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Franceses voltaram a “conquistar” Almeida

Centenas de pessoas assistiram, no domingo de manhã, à batalha travada entre as tropas anglo-lusas e as de Napoleão

Desde que a Câmara de Almeida decidiu levar a cabo a recriação histórica do cerco da vila amuralhada pelas tropas de Napoleão que esta iniciativa tem sido um sucesso, chamando sempre muito público. A quarta edição, realizada na manhã do último domingo, não fugiu a regra e várias centenas de pessoas não quiseram perder pitada dos combates que tiveram como pano de fundo a fortaleza e a antiga praça-forte.

Entre muitos tiros e explosões, tudo acabou em bem e mesmo os soldados “mortos” no campo de batalha rapidamente se levantaram e continuaram a combater. Esta recriação, inserida nas tradicionais Comemorações da Batalha do Buçaco, foi protagonizada pela Associação Napoleónica Portuguesa e outras agremiações do género, envolvendo cerca de 140 pessoas. Antes da recriação do “combate” propriamente dito, realizou-se uma cerimónia evocativa do Cerco de Almeida, um acto formal de homenagem por parte do Exército Português aos mortos naquela batalha. Após o descerramento de uma lápide em memória aos soldados tombados a 26 de Agosto de 1810, todos os regimentos – português, espanhol, inglês e francês – deslocaram-se para o local do combate nas Portas de Santo António. Nesta batalha, também didáctica, demonstraram-se algumas tácticas de guerra da época, com as tropas anglo-lusas, as milícias e ordenanças portuguesas e tropas napoleónicas a defrontarem-se ferozmente.

Enquanto os espanhóis lançavam gritos de “no passarás” para os franceses, estes forçavam a entrada. No campo de batalha houve ainda muitos disparos de espingarda, tiros de canhões e mesmo combates corpo-a-corpo com baionetas. Tudo a fingir, claro. Quando tudo parecia apontar para um sucesso nacional, eis que o paiol do castelo explodiu, alterando o rumo dos acontecimentos. Com os franceses a lançarem toneladas de destroços sobre as nossas forças morreram cerca de 1.500 pessoas entre civis e militares, destruindo a capacidade defensiva da praça e levando à rendição das forças lusas. Foi assim em 1810, mas agora, apesar dos muitos tiros, ninguém morreu. Já a rendição foi feita formalmente pelo comando da praça de Almeida e pelo comando francês, de acordo com as leis e as regras de honra de guerra da época. No final, “ressuscitados” os mortos e tratados os feridos, todos os soldados se reuniram e gritaram vivas a Almeida, Portugal, Espanha e França.

Terminou assim, num ambiente de paz e fraternidade, a reconstituição histórica do dramático cerco da vila, que ocorreu antes da Batalha do Buçaco, durante a Terceira Invasão Francesa, em 1810, numa iniciativa da autarquia local. No último domingo, José Patena assumiu o papel de comandante de infantaria de linha e garantiu que as armas e as roupas «são originais ou então réplicas muito fiéis». Na sua opinião, esta recriação é «muito importante», pois faz «reviver um período que trouxe Almeida para o mapa das batalhas mais lembradas de toda a história», recordando que, por exemplo, a explosão do paiol «foi ouvida em Salamanca». Por outro lado, a praça-forte oferece «condições magníficas» para a iniciativa, tendo havido um «esforço para mostrar algo do que poderá ter acontecido em 1810», explicou este participante residente em Lisboa, mas originário da região raiana. No sábado, entre outras actividades, foi recriada a Batalha de Fuentes de Oñoro, ocorrida a 3 e 4 de Maio de 1811 entre tropas anglo-lusas e francesas. À noite houve um combate nocturno com fogo de artilharia nas muralhas e baluartes e com infantaria pelas ruas de Almeida.

Ricardo Cordeiro

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