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Foste em cantigas?

Ladrar à Caravana

Anda por aí uma campanha publicitária ao crédito à habitação, que apesar de ser estúpida (tive de a explicar a uns amigos brasileiros, absolutamente perplexos com o texto), fica na memória e, portanto, cumpre o seu papel. E porque funciona, fui lá fazer as perguntas da praxe, as simulações, os sprédes, a euribor, as taxas de esforço, os seguros, o costume.

E foi então que começaram as cantigas. Um bocado pimba, para o meu gosto. Como sou funcionário público (uma espécie ideal de cliente de baixo risco) tinha logo, sem hesitação, um spréde bestial que ainda poderia ser espremido. Até aqui, tudo bem, excepto o facto de encontrar noutros bancos condições mais interessantes, sem sequer começar a regatear. Mas a parte menos agradável da cantiga viria a seguir: está claro que estas condições e este atendimento personalizado só poderiam ser oferecidas a clientes com as vossas características. O cavalheiro, professor universitário, a senhora, enfermeira num hospital, está claro que nunca perderíamos este tempo de atendimento com um vulgar operário, nem lhe ofereceríamos estas condições. Tempo é dinheiro, como compreenderão.

Nós compreendemos. Perfeitamente.

Não. Falei com o outro…

Não sei se este é o discurso oficial pré-formatado e normalizado pela direcção de relações públicas do banco, ou se tivemos azar com o funcionário que nos saiu na rifa. Haverá clientes que sentem o seu ego afagado com este tipo de conversa tu-és-o-máximo-os-outros-não-prestam, mas aqui em casa temos a mania de achar que toda a gente tem direito a ser considerada com dignidade. E que quem é mais vulnerável, mais atenção e solidariedade deve receber. Vem na Constituição e tudo. Manias, já se vê.

Por: Jorge Bacelar

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