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Foi na loja do Mestre André

observatório de ornitorrincos

Quero felicitar a TVI pela ideia de juntar rapazes espertos com raparigas giras, coisa nunca vista na história da Humanidade. Ninguém acredita que o Cristiano Ronaldo, se em vez de jeito para a bola, tivesse cabeça para a Física Quântica, conseguia sacar com a mesma facilidade Merches, Gemmas e outros ovinhos.

A verdade é que uma miúda gira não precisa de um gajo esperto para nada. Primeiro, porque um génio de 150 pontos de QI fica reduzido a um imbecil de 35 que se baba à frente de qualquer Charlize Theron. Segundo, porque conhecer as trombas do Ghandi ou do Camões é treta comparada com a arte de fazer um Bloody Mary ou um Manhattan enquanto se desvendam partes das coxas e dos seios. Perdão, das mamas. Terceiro, porque a cabeça tem utilidades muito mais interessantes. Quem é que precisa de saber de cor a capital do Kiribati ou a forma de governo da Suazilândia, se qualquer enciclopédia traz essa informação? Aliás, quando é que algum dos leitores já precisou realmente de saber essa informação?

E isto é partir do princípio que todas as mulheres bonitas são estúpidas, o que é estatisticamente impossível, uma vez que há muito mais gente do sexo feminino nas universidades e nas revistas masculinas, o que prova que algumas devem acumular as duas características. Uma rapariga gira (o mesmo que gaja boa, caro leitor) e inteligente não precisa de um gajo para discutir o pós-modernismo rebelde de Jean Baudrillard. Dá-lhe muito mais jeito um que fique bem nas fotografias e de quem possa dizer às amigas, em jeito caritativo: “Estive ontem a ensiná-lo a ler um editorial do Vítor Serpa. Não é tão querido?”

A Bela e o Mestre é um belo trocadilho a partir de A Bela e o Monstro. Imagino que o jogo de palavras da versão de língua inglesa (adaptando The Beauty and the Beast) tenha sido The Beauty and the Best. A TVI, sempre à procura de novos entretenimentos para o povo português, deveria diversificar a sua oferta de reality shows partindo da base do título A Bela e o Monstro.

Assim, um programa que juntasse jogadores de futebol e gajas muito feias (outro momento inédito em televisão) chamar-se-ia A Bola e o Monstro, onde os jogadores de futebol poderiam mostrar às moças como é que se finge ter muito estilo com meia dúzia de peças de roupa, mesmo sendo feio como o Petit ou tendo uma vozinha irritante como o Ricardo.

Noutro programa, a estação poderia emparelhar um grupo de caçadores com betinhas da vela. Seria A Bala e o Mastro. Aqui as meninas de sapatos de borracha e pullovers da Gant aos ombros ensinariam aos rapazes como atirar às perdizes vestidos com um colete da Façonnable e a dizer “Com licença” depois de cada tiro.

Outras variações poderiam promover o acasalamento entre raparigas muito maquilhadas e compositores musicais no sensacional A Tela e o Maestro. Talvez fosse uma opção arriscada, devido à especificidade cultural de tal programa, mas uma televisão não deve subestimar a estupidez das suas audiências.

Finalmente, sugeria um reality show para inadaptados e melgas, gente que costuma andar sozinho no meio de casais ou que tem o costume de maçar os outros com a sua presença. O título seria, obviamente, A Vela e o Pega-Monstro. É que no meio de tantas ideias, julgo que também mereço ter um programa onde pudesse entrar.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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