P – Já era esperada a decisão do Tribunal da Covilhã de conferir a posse administrativa do “Espaço das Idades” à Junta de Freguesia de Santa Maria?
R – Obviamente que sim. Quando intentámos esta ação era porque tínhamos a certeza absoluta de que eram bem claros os objetivos que nos levaram a esta finalidade porque há um protocolo celebrado entre a RUDE, como detentora do edifício, a Câmara, como proprietária de um departamento de Ação Social, e a Junta de Freguesia de Santa Maria que apresentou uma proposta bem clara de reunir naquele espaço os idosos nas mais diversas áreas de atividade. Celebrado esse protocolo em 16 de fevereiro de 2009, tornou-se sempre tudo muito pacífico até ao momento em que não apoiei o candidato que o presidente da Câmara estava a apoiar.
P – Continua então a dizer que toda esta situação ficou a dever-se a questões políticas?
R – Para mim, foi única e exclusivamente devido a questões políticas. Quando me recusei a apoiar essa candidatura fui chamado pelo presidente ao seu gabinete, onde me disse que o “Espaço das Idades” já se podia gerir por ele próprio e que iria lá colocar três técnicas superioras de Ação Social. Eu iria para o município ocupar um gabinete e trabalhar diretamente com o chefe de gabinete, Paulo Tourais, no projeto das hortas comunitárias. Numa primeira análise, e tendo em conta que era uma ordem superior, não nego que disse que iria acatar essa decisão, mas quando saio do gabinete reconheço imediatamente que algo estava a ser menos sério na proposta. Então durante quatro anos e meio servi para gestor daquele espaço, fui elogiado “n” vezes pelo presidente ao longo desse percurso e a três meses das eleições deixo de ser útil e já não estou à altura do lugar! É evidente que algo estava mal.
P – A Câmara da Covilhã retirou muito equipamento do local?
R – A Câmara retirou todo o equipamento que pertencia à Junta e agora não há mais nada a fazer que não seja repô-lo. Está arrecadado num armazém, tanto quanto sabemos, e com certeza que a Câmara está a pagar um aluguer, o que é um absurdo. Nem sequer fomos convidados, como deveríamos ter sido, para recolhermos equipamento, uma vez que eles ocuparam abusiva e selvaticamente, pela calada da noite, o “Espaço das Idades”. Tanto mais que, anteriormente, fui convidado pelo vereador Luís Barreiros a apresentar uma proposta de venda desse material. Começaram por dizer-me que se podia aplicar ali a lei do mecenato e utilizariam gratuitamente aquele material. Depois já iam para uma verba de utilização do material e, por fim, queriam que eu apresentasse um número para a compra do equipamento, mas eu sempre disse que não vendia absolutamente nada porque o equipamento não tinha venda. É quando eles abusivamente retiraram o material e o colocaram num armazém. Na quarta-feira, depois das instalações nos terem sido entregues, fiquei muito surpreendido quando vi que estava tudo vazio.
P – Em sua opinião, toda esta polémica era escusada?
R – Foi a maior surpresa da minha vida ter acontecido tudo isto. Eu era um fiel servidor e devoto do presidente Carlos Pinto. Desde a primeira hora que me coloquei ao seu lado, sempre o apoiei e andei a fazer campanha com ele por todo o lado. Cheguei a ser “speaker” nas diversas intervenções que teve na campanha eleitoral e foi, de facto, uma surpresa muito grande esta atitude. Sei que ele disse para alguém que eu não estava bom de cabeça. Cuidado. Quem não está bom de cabeça é ele porque não é só comigo que está a acontecer. O presidente podia e devia sair pela porta grande. Fez obra e um trabalho extraordinário durante todos os mandatos e fez, se calhar, o que nenhum presidente fez. Foi dos maiores presidentes de Câmara que passaram pela Covilhã, daí eu perguntar porquê tudo isto agora? O que é que se pretende demonstrar à sociedade com a imposição de alguém que nem é conhecido, que não tem o traquejo político necessário para ser presidente e que foi o único que aceitou as condições que o presidente lhe impôs. Vamos ver o futuro.
P – Acha que a Câmara da Covilhã vai acatar a decisão do tribunal ou pensa que o assunto não vai “morrer” aqui?
R – A lei é bem clara e permite-lhes o recurso, mas enquanto ele corre e não decorre nós estamos a ocupar as instalações. Eu não acredito muito que eles ainda sigam por esse caminho porque ficou bem demonstrado no documento do tribunal que estamos na posse de um terreno de pleno direito. Nada há ali nada em contrário que possa contrapor.
P – O “Espaço das Idades” vai continuar a funcionar como antes ou a Junta pretende introduzir alterações?
R – Vamos melhorar, como é óbvio, tendo em conta que tivemos que passar por um processo de despejo completo daquela casa e aproveitamos agora para fazer acertos. Vamos continuar a funcionar no mesmo local porque neste momento não temos condições para o novo espaço que estávamos a pensar ocupar – [“Fábrica dos Afetos” nos antigos Serviços Municipalizados] – por razões que têm a ver com a requisição da energia elétrica. Entretanto, já nos cortaram a água novamente e vão também cortar a luz com certeza e aí só há uma coisa a fazer. É a Junta requisitar a água e depois a luz.