A propósito da tragédia de um pai que perde um filho. O filho está gravemente doente, a medicina sabe que não há mais nada que lhe possa dar e a criança morre. O pai culpa os hospitais e luta no tribunal. A propósito da senhora de 96 anos que tem metástases de um tumor primário desconhecido. Gastam-se inúmeros exames e descobre-se a origem. E agora? Alguém opta por um tratamento e a mulher fenece. Culpam o hospital e vão para o tribunal. Vem também tudo isto do acidente em que o condutor encadeado bateu de frente e culpou o Sol e foi para tribunal. Há hoje muitas pessoas que estão desfocadas da realidade e iludidas pela sua ignorância atrevida. A ignorância de que se pode fazer sempre muito mais e muito melhor. A falta de senso dos limites da realidade e da utilização dos recursos. A completa desfocagem sobre a condicionante imponderável, sobre a dependência da sorte. Hoje há mais atrevidos e desconfiados porque uma informação indecente e uma informação demente, constrói realidades sobre ausência do saber. Há quem queira processar a Lua porque a visibilidade de noite era pouca. Há quem desejasse participar dos pais porque a genética não era a melhor. Há tanta gente desfocada, culpabilizadora, exigente na razão inversa da sua performance, crítica em processo contínuo. Carecemos de tolerância e de fundamentação de boa fé.
Por: Diogo Cabrita