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Floresta Portuguesa

GAIA

Por Maria de Lurdes Santos*

A Universidade de Vila Real coordena uma investigação sobre a floresta mista em Portugal, defendendo que várias espécies de árvores juntas possuem maior capacidade de reagir num contexto de alterações climáticas e de sobreviver aos incêndios.

Fizeram análises dos troncos para perceberem ritmos de crescimento e de fixação de carbono nesses povoamentos, comparando as potencialidades das árvores em monocultura ou conjugadas com outras espécies, chegando à conclusão de que quando estão em povoamento misto a sua capacidade de fixar carbono é superior.

As árvores são a maior máquina de fotossíntese que conhecemos, retiram CO2 da atmosfera, sendo um processo natural para contrariar as alterações climáticas.

Em Portugal, houve várias situações responsáveis pela exploração e declínio das florestas. A sua degradação teve início com o cultivo de cereais e a domesticação de animais, há cerca de 7-8 mil anos. Uma parte das montanhas do norte talvez já estivesse com a floresta muito degradada no início da nossa nacionalidade.

Durante os Descobrimentos, derrubaram-se mais de 5 milhões de carvalhos. Na construção naval, foram utilizadas madeiras de azinheira e sobreiro; todavia, como eram fonte de bolota comestível e cortiça, foi proibido o seu abate, tendo sido substituídas pelo carvalho-alvarinho. Para cada nau eram necessários entre 2000 a 4000 carvalhos.

Em 1495 foram publicadas leis para a reflorestação e em 1565 é publicada a Lei das Árvores que realça a prioridade das resinosas, obrigando à utilização de folhosas – mas já nessa altura não se cumpriam as leis…

Na construção da rede de caminho de ferro derrubaram-se florestas de carvalho-negral. A agricultura, a pastorícia intensiva, os fogos e as queimadas também tiveram grande impacto na destruição da flora portuguesa. As referências de fogos em Portugal remontam ao século XII, tendo aumentado a partir de 1975. A sul do Tejo, após a campanha do trigo, foram devastados sobreirais e a maioria dos montados de azinho

Depois da criação dos “Serviços Florestais” e da política de arborização do “Estado Novo”, criou-se a maior área de pinhal contínuo da Europa. Os pinhais têm vindo a ser substituídos por eucaliptais e acácias. Com o declínio da riqueza florística deu-se o empobrecimento faunístico

Se destruirmos a nossa Biodiversidade, a que paisagens e canteiros irão os futuros pintores buscar inspiração, o que levaria os poetas a escrever sonetos, os compositores a elaborar sinfonias e os filósofos a refletir sobre Deus? Destruir florestas a troco de lucro é como queimar quadros do Louvre para cozinhar o jantar.

*professora

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