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FINCAPÉ

Sou, em princípio, contra a saída dos alunos da sala de aula, dando lugar à marcação da respectiva falta, por questões de natureza pedagógica.

Para mim é claro que os alunos devem transitar de ano e respeitar professores e demais elementos da comunidade escolar, sem que isso mereça grande alarido. No estado decadente do nosso ensino, passar não é propriamente tarefa difícil e, se isso não acontece, temos sim um motivo de preocupação. Preocupante é vermos alunos a agir de forma tirânica e insolente com outros alunos e, sobretudo, com os professores. Esta é uma realidade cada vez mais frequente nas nossas escolas. Os alunos estão lá sem grande motivação, por vezes, com indiferença ou mesmo mal-estar. Os seus problemas, próprios da adolescência, são inúmeros e as situações de indisciplina aumentam, porque “ não os deixam viver livremente a sua juventude”. Entendo, por um lado, que os alunos não têm culpa por serem cada vez mais ansiosos. O culpado é talvez o sistema que aumentou o número de necessidades e a quantidade de informação, entulhando a sua memória, que tem que funcionar a uma velocidade nunca vista. Entendo também, por outro, que, aumentando a velocidade do pensamento, aumenta a ansiedade e a insatisfação. Os alunos tornam-se cada vez mais irrequietos, têm mais dificuldades de concentração, são computadores que não param de operar. A tranquilidade desaparece, a paciência evapora-se, a inquietação aumenta. A este ritmo atrever-me-ia a dizer que alunos solidários, tolerantes, compreensivos, afectuosos e disciplinados serão uma espécie em vias de extinção.

E o papel do professor? Teoricamente, o professor nunca deve desistir de um aluno, porque se investir no aluno que hoje o decepciona, este poderá surpreendê-lo no futuro. Mas, o que é facto é que não é valorizado socialmente como merece, vive no anonimato da sala de aula, está inserido num sistema doente e falido e contacta diariamente com uma massa humana diversificada (maneira de ser, personalidade, carácter, comportamento, postura, violências visíveis e invisíveis) que o vai molestando psicologicamente… Com uma mão escreve no quadro, com a outra move os alunos, sempre sujeito às críticas e aos olhares atentos dos pais que não hesitam em tomar a defesa do seu educando com receio de admitirem que erraram na sua educação, porque tiveram dificuldades em decidir ou recearam dizer não. Estou cada vez mais convencida que os alunos chegam à escola sem conhecer a palavra “regra”, sem ter a noção do que podem ou não fazer; do que é autorizado ou proibido. E em casa? Conhecem a palavra “prémio”, que resulta da falta de convicção dos pais, tantas vezes assustados com a crescente frontalidade dos filhos e com o seu maior poder.

E se um dia seguimos a máxima “Leave the kids alone!”? Nesse dia a nossa escola tornar-se-á uma escola de pesadelos; nesse dia os professores transformar-se-ão em máquinas de ensinar e os alunos em máquinas de aprender (aqueles que querem, claro!). Será essa a vontade dos pais?

por Carla Almeida*

* professora de Espanhol

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