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Sou claramente a favor da realização de actividades extracurriculares por parte dos professores para os alunos, por considerar que são enriquecedoras para o desenvolvimento das suas capacidades, por considerar que favorecem o contacto com outras vivências e, sobretudo, por considerar que proporcionam uma visão mais ampla e rica de outras realidades.

Há muito que a escola “rebentou” a vedação e os professores, unidos a outros parceiros num trabalho conjunto, fazem realizações criativas e programam actividades que animam o quotidiano dos seus alunos. Impressiona ver tantos professores a trabalhar intensamente numa tentativa, às vezes ilusória, de captar a atenção, motivar e melhorar cada vez mais a relação entre os que ensinam e os que aprendem.

Refiro-me concretamente à organização de visitas de estudo – uma velha e cada vez mais difícil missão na escola dos nossos dias. Porquê?

Importa compreender que todos os professores sabem que correm um número significativo de riscos quando encabeçam esta missão, mas também sabem que sem desafios arriscados é cada vez mais difícil criar/ manter boas relações com os alunos. Para que não fiquem dúvidas, terminam os dias mais cansados com esta árdua tarefa, mas felizes porque sabem que a escola é para os alunos uma segunda casa e todos os esforços são para lhe dar sentido. Dito de outra forma, é graças à sua boa vontade, boa intenção, grande dedicação e espírito de sacrifício que levam a cabo visitas de estudo, em período lectivo ou não lectivo, com todas as responsabilidades que acarretam. E os problemas multiplicam-se.

Na actual e grave crise das nossas escolas vejo rapazes e raparigas abraçados ou beijando-se sem complexos, vejo cadernos diários, ou melhor, dossiês desorganizados, com erros ortográficos ou em branco, vejo generalizarem-se na sala de aula conversas laterais, piadas grosseiras e até palavrões que já saem de forma espontânea, vejo por entre as pernas de ganga e blusões descuidados o fascínio por interesses alheios aos escolares, através do manuseamento escondido e silencioso de telemóveis nova geração e vejo, lamentavelmente, a falta de autoridade com que olham os professores e o desaparecimento de muitos valores que estão na base da educação de qualquer ser e que põem em causa todo o nosso trabalho. Não me canso de proclamar que os alunos devem ter perfil e postura adequados para serem os principais intervenientes no processo de dinamização de uma escola e regras fornecidas por professores seguros do seu papel e sem medo das suas convicções.

E quando assim não acontece estamos no bom sentido para uma desresponsabilização de todos: os professores, preocupados com o que se pode dizer deles, hesitam no caminho a seguir e têm medo dos pais. Os pais comentam a didáctica da sala de aula, interferem em medidas correctivas/ pedagógicas tomadas pelos professores no espaço lectivo, tendem a ser cada vez mais parciais, por serem juízes em causa própria e procuram “soluções mágicas” para a educação dos seus filhos na escola. E os alunos não sabem quem manda, deixam de saber para onde olhar, deixam de estar envolvidos no trabalho, põem em causa a autoridade dos professores e criam um campo de forças com adultos inseguros que disputam o poder: pais e professores.

Em que ficamos, afinal? Cooperem com os professores, mas deixem a sala de aula para eles se entenderem com os alunos.

Às vezes, o mais importante é uma coisa simples que deixámos de ver: quem manda na sala é o professor e a escola não é um espaço onde todos têm os mesmos direitos e os mesmos deveres.

por Carla Almeida*

*professora

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