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Fim das isenções é «certidão de óbito» para o interior

Empresários da região estão descontentes com o fim da discriminação positiva e anteveem um impacto gravoso na economia regional

O fim do pacote de isenções em 10 viagens na A23 e A25 no início deste mês tem como efeito mais imediato o aumento de custos para os empresário locais, que veem a sua mobilidade condicionada por gastos que antes não existiam e também pelo mau estado das vias alternativas.

O presidente da Associação Empresarial do Nordeste da Beira considera a medida um contrassenso já que surge «à revelia de outras políticas, aplicadas por este Governo, que querem e defendem que os cidadãos tenham maior mobilidade». Neste sentido, António Oliveira entende que «a concentração contraria essa mobilidade e reforça o poder local, logo são sinais contrários» do mesmo executivo.

Nuno Rodrigues, da Almério e Filhos, Lda., sustenta esta ideia com a dificuldade de aplicar políticas, já que o Governo «quer aumentar as exportações, mas faz diminuir a competitividade com o fim das isenções», ou seja, «define uma política, mas aumenta os custos». Numa análise a nível interno, o empresário antevê que «mais empresas entrem em insolvência». Já António Pedro Santiago, da Santiago &Cia, Lda, refere as dificuldades que a sua empresa de transportes Rivacar já enfrentava antes do fim do pacote de dez viagens, adiantando que «se já estava em vias de fechar, agora o mais certo é que vá acontecer isso mesmo».

Para exemplificar o agravamento em causa, o empresário diz que «com estas mudanças recentes, há um aumento de 300 para 1.700 euros, só com três camiões, o que é impraticável». Nesta empresa, a maior dificuldade é sentida na A25, uma via que, segundo o responsável, não apresenta estradas alternativas de Viseu para Aveiro, sendo que nas viagens para a Guarda não se verifica o mesmo impacto, «apesar de as estradas estarem em más condições». Também António Oliveira defende que as vias secundárias não têm condições e «são claramente insuficientes», enquanto Nuno Rodrigues acrescenta não perceber como se podem taxar autoestradas e deixar os portugueses sem alternativas.

O empresário da Transportes Almério entende esta medida como «uma autêntica certidão de óbito», uma vez que acarreta «custos diretos e imediatos» para as empresas, que não são fáceis de “fintar”. Isto porque, ao evitar passar na A25, uma das estradas que a transportadora mais utiliza, têm de ser feitos «grandes desvios, o que implica um aumento de gastos com o gasóleo». O combustível é uma das dificuldades atuais, tendo em conta que os constantes aumentos no seu custo não são acompanhados por um aumento do consumo. Nuno Rodrigues volta a lembrar a importância das isenções que permitiam «gerir um pouco e, assim, tentar pagar o mínimo possível». Também António Pedro Santiago refere que essa mesma estratégia era adotada para controlar os custos.

O presidente da Aenebeira destaca o «efeito gravoso» da medida para a economia local, já que para os «operadores locais a situação fica ainda mais complicada, alterando as suas distribuições regionais de uma forma que não se verificava». E, inserindo ainda na discussão o agravamento para a comunidade civil, António Oliveira carateriza os descontos apresentados como um «sofisma», uma vez que a região paga mais por estradas piores. Ou seja, «as autoestradas da nossa região têm um custo de perto de nove cêntimos por quilómetro», enquanto nas dos grandes centros «se paga sete cêntimos». Assim, mesmo com o desconto de 15 por cento para os utentes, «fica a cerca de 7,7 cêntimos por quilómetro, o que continua a ser mais caro do que na A1 ou A2, por exemplo».

Quando questionados em relação a possíveis soluções, os empresários indicam um maior desconto, de forma a aliviar a carga mensal que as portagens implicam, embora defendam que estas vias não deviam sequer ser taxadas. Para António Oliveira, o desconto nunca devia ser inferior a «30 ou 40 por cento», atendendo também à diferença nos custos entre as autoestradas da região e as de maior tráfego. António Pedro Santiago reforça esta ideia com a possibilidade de um «desconto de 50 por cento, por exemplo num certo número de passagens ou horas». Já Nuno Rodrigues acredita que só «um desconto de 50 a 60 por cento» poderia evitar a “fuga” à A25, visto que esta aumenta consideravelmente os gastos em combustível. O empresário admite que, apesar de não terem sido ainda encontradas soluções dentro da Transportes Almério, uma das possibilidades é fazer com que os «camiões venham menos vezes», até porque o serviço da empresa de transportes é mais significativo a nível internacional.

Fim das isenções é «certidão de óbito» para
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