Uma festa onde nem todos os animais podem entrar. Ler Juan Pablo Villalobos é executar uma pirueta num corpo que não é o nosso e sentir que só podemos parar de rir quando uma lápide nos for dedicada. Se a infância é habitualmente encarada como aquele período de “loucura original”, também não deixa de ser verdade que os adultos precisam muitas vezes de olhar novamente através dessa lente nonsense. No romance “Festa no Covil”, é Tochtli que nos ajuda a calçar os pés de trapezista para sonhamos o México.
Logo no início, o menino-chapéu (sim, segundo Tochtli usar chapéu é um bom hábito das pessoas pulcras) declara amor à França por ter inventado a guilhotina, mas quando se apercebe que as quadrilhas nem sempre têm a ver com contar a verdade decide ficar mudo como um japonês. Nesse seu “palácio”, vemos tigres, leões e pássaros exóticos, só que o menino sonha todos os dias com um hipopótamo anão da Libéria, e Yolcaut, sendo chefe do tráfico de drogas, tudo faz para dar ao seu filho esse animal raro em vias de extinção.
Mimosa e violenta, a história não é sobre o crime ou o criminoso, mas sim sobre um pai que quer proteger o seu filho, custe o que custar. Como vive cercado de bandidos e trancado na fortaleza do pai, Tochtli conhece poucas pessoas (treze ou catorze, no início; dezasseis quando Alotl lhe leva o chapéu de Acapulco – o pior da sua extensa colecção). Entretido a preencher a solidão, este narrador já sabe que: os tricórnios são para invadir países; os sombreros servem para dar tiros para o ar e gritar frases nacionalistas; e Mazatzin é o escritor frustrado que lhe ensina todas as outras coisas que um menino latino-americano precisa de saber.
Arrisco-me a escrever que nem tudo o que lemos nos fala sobre essa cidade ferida. Neste caso em específico a história é pequena, mas o absurdo é enorme e a experiência diz-me que quanto menor o tamanho, maior a possibilidade de o autor destruir todas as nossas expectativas. Juan Pablo Villalobos não só destrói, como experimenta a beleza da contradição sem que percamos a vontade de sorrir. Uma história para ler de coração roto, porque nada é tão brutal como a honestidade de uma criança.
Melanie Alves
*A autora escreve de acordo com a antiga ortografia
**Pode visitar: www.aosomdapele.wordpress.com