Cremosas, servidas em pequenas taças, ou à fatia, como se de um bolo se tratasse. Depois houve que escolher entre comprar a unidade a 50 cêntimos ou optar pelo menu, a cinco euros, com direito ao doce e ainda a porco no espeto, mais o devido acompanhamento, bebida e café. Mas nesta festa o importante era provar as famosas papas de carolo. No sábado à noite, o parque Duppingheim, na Boidobra, voltou a encher para a segunda edição da Festa das Papas, organizada pelo Rancho Folclórico local, para promover esta sobremesa típica das Beiras.
Eis a receita da festa: 10 quilos de carolo, 65 litros de leite e uns 14 quilos de açúcar. Juntem-se umas boas horas para todo o processo, desde a lavagem do carolo ao derradeiro toque, o da canela, e eis 500 doses individuais deste doce que, no mundo das sobremesas, é o concorrente mais directo do arroz doce. «E depois ainda leva a laranja», acrescenta uma das cozinheiras de serviço, Helena Garcia, entre a azáfama natural deste tipo de organizações. «Estão muito boas e cremosas», avalia uma das visitantes, Goreti Matos, que não resistiu a falar do «muito trabalho» que envolve a confecção do doce. «É preciso lavar o carolo, colocá-lo num tacho com água a cozer e ir acrescentando leite, sempre sem deixar de mexer e sem esquecer um bocadinho de sal no final», precisa. Ao lado, a filha de 19 anos ainda chegou a arriscar, erradamente, um ingrediente – farinha de trigo – para logo se apressar a dizer que arroz doce já sabe fazer. Já o pai, Jorge, nem gosta de papas, mas apareceu na festa «pelo convívio e porque é importante participarmos nas actividades, para que elas não desapareçam».
Entre os mais jovens, lá se ia confessando desconhecer a receita desta sobremesa tradicional. Mas na barraquinha de venda das papas discutia-se as várias versões de confecção da sobremesa. «Há quem opte pelo limão em vez da laranja», dizia uma. «E quem dispense a canela», acrescentava outra, constatando ainda que «há pessoas que lhe juntam arroz». Mas há mesmo quem se lembre de como eram confeccionadas antigamente, quando o leite e o açúcar escasseavam. «A minha mãe fazia com água e azeite porque açúcar e leite não havia e comiamo-las na mesma», garantiu Maria da Ascensão, de 71 anos, que reconhece que, «hoje, são bem melhores». «Agora a malta nova não as sabe fazer, têm outra maneira de cozinhar», lamentou, enquanto começava a centrar as atenções no palco, onde se esperava o início das actuações da noite. É que a animação da festa esteve a cargo do grupo de bombos “Os Baldões” (secção autónoma do CCD Estrela do Zêzere), dos grupos folclóricos “Terras de Arões” (Vale de Cambra) e “Os Malmequeres de Lourosa” (Santa Maria da Feira), além da música popular de “Os Narcisos” (Manteigas).
O certame contou ainda com uma novidade, que registou adesão: a utilização de pequenas canecas em alumínio em detrimento do convencional copo de plástico, por questões ambientais. O visitante era incentivado a alugar a caneca, por um euro, podendo entregá-la (ou não) ao fim da noite, sendo-lhe devolvido o dinheiro.