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Feira das Tradições foi uma «aposta ganha»

Muitos dos antigos trabalhadores da Rohde voltaram à fábrica para visitar o certame

Ao abrirem-se as portas da 12ª edição da Feira das Tradições e Actividades Económicas, nas antigas instalações da Rohde, Pinhel reviveu momentos de grande emoção e saudade. Mas nem por isso o evento, que decorreu no passado fim-de-semana, dedicado às “Expressões Artesanais da Vida Rural”, deixou de ser uma aposta ganha pela autarquia.

Apesar da chuva, que assolou toda a região na tarde de sexta-feira, centenas de pessoas marcaram presença na sessão de inauguração para ver e rever a antiga fábrica de calçado, transformada durante três dias num importante certame para a “cidade-falcão”. Agendada inicialmente para o Pavilhão Multiusos, o evento mudou-se de armas e bagagens para as antigas instalações da Rohde, adquirida pelo empresário António Baraças, que disponibilizou o espaço a título gratuito. «Acho que nos saiu a sorte grande», admitiu o presidente da Câmara de Pinhel, para quem esta foi uma «aposta ganha» pelo município, já que as instalações são «muito dignas» e trouxeram «outra dinâmica» à feira. No entanto, António Ruas lamentou que a cedência não tenha surgido mais cedo, já que a autarquia foi obrigada a recusar muitas inscrições «por falta de espaço». Por outro lado, confessou ser «desagradável realizar uma feira num espaço onde tínhamos 400 postos de trabalho», mas espera que o certame tenha servido para atrair potenciais investidores.

E para tal António Baraças até está disposto a ceder temporariamente, a título gratuito, os espaços necessários «se os futuros interessados criarem postos de trabalho e se permanecerem durante alguns anos em Pinhel». Caso contrário, o empresário promete alugar com rendas de baixo custo. Entretanto, quem passou por Pinhel nos três dias da feira terá ficado com uma ideia do que de melhor se faz na região, já que este ano a autarquia procurou ter representadas, para além das associações, todas as freguesias do município. «Tivemos cá cerca de 20 freguesias, faltam apenas sete, e gostaríamos que as associações se unissem às Juntas para, em conjunto, realizarem uma dinâmica promocional em termos de artesanato», desafiou o autarca.

Uma feira de emoções

Passado mais de um ano após o encerramento da Rohde, vários antigos funcionários da fábrica de calçado tiveram a oportunidade de rever o seu local de trabalho nos últimos anos. Saudade acabou por ser a palavra mais ouvida no primeiro dia da feira. Tudo foi pretexto para recordar as alegrias e tristezas vividas pelos cerca de 400 trabalhadores ao longo de quase 16 anos de laboração. Maria da Luz, de 34 anos, trabalhava desde os 18 na Rohde. «É muito complicado voltar aqui, dei uma volta pelos pavilhões e tive um emoção muito forte. Chorei por todos os momentos bons que aqui passei. Era aqui que tinha o meu emprego», recordou, ainda emocionada. Um sentimento partilhado por Hermelinda Lucas, de 51 anos, oito deles passados na antiga fábrica da multinacional alemã. «Foi estranho e muito difícil regressar, porque é complicado ver a Rohde transformada num certame para quem trabalhou aqui, dedicou tanto tempo e deu tudo o que podia pela fábrica», refere. Actualmente, ambas estão a frequentar um curso de artífice em marcenaria e iniciação ao restauro, em conjunto com mais 12 ex-trabalhadores.

Tânia Santos

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