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Fazer o que falta – Um mercado de frescos no centro histórico da Guarda

Fio de Prumo

O comércio e as relações que este gera são, em cada cidade, uma das marcas maiores da sua identidade urbana. O Mercado da Ribeira em Lisboa foi, durante o século XX, um dos símbolos da vida da capital – e hoje continua a sê-lo numa versão virada para o turismo, com frutas, legumes, talhos e bancas de peixe num lado do mercado, e, no outro lado, restaurantes dos mais conhecidos chefes portugueses, onde as pessoas vão buscar a comida que, a seguir, saboreiam nas mesas espalhadas na nave central.

O Mercado do Bom Sucesso no Porto, o Mercado de Campo de Ourique em Lisboa, ou espaços emblemáticos como o mercado de San Fermín, em Madrid, ou o Mercat de la Boqueria, em Barcelona, são alguns dos melhores espaços que essas cidades oferecem ao convívio dos seus habitantes e, ao mesmo tempo, aos turistas que as visitam.

O prazer de fazer compras e de aproveitar para conviver com amigos e conhecidos é, talvez, o que de melhor as cidades oferecem aos seus habitantes desde o início das civilizações. Hoje, fruto de uma nova consciência social e sobretudo cultural, associa-se esse traço de convívio urbano com os princípios do comércio justo e do turismo sustentável. Saber ir ao encontro dessas tendências revela, mais do que sentido de oportunidade, sabedoria.

Por isso, muitas cidades no mundo recuperaram os seus velhos mercados no centro das cidades. Estes locais são hoje autênticos santuários de caldo de culturas, permitindo aos produtores escoar a sua produção a um preço justo e aos habitantes das cidades e seus visitantes não só ter acesso a melhores alimentos, mas, sobretudo, fazer da sua aquisição um momento de convívio, de prazer, de satisfação.

A Guarda – em contraciclo com o resto do mundo… – retirou do seu centro a antiga praça, caraterística e integrada no casco histórico da cidade, levando-a para a cintura externa e lá a mantendo: remota, incaraterística, pouco acolhedora, sem qualidades nem proximidade para atrair visitantes, a definhar, moribunda. Perante as mudanças culturais e urbanas das últimas décadas, perante o aumento do número de turistas, tendo em conta que existem espaços ao abandono no centro, do que se está à espera para trazer de novo o mercado de frescos da Guarda para o meio da cidade?

Com isso valorizava-se o centro histórico, criava-se um novo ponto de convívio urbano, atraiam-se turistas para conhecerem a nossa cultura gastronómica e escoava-se uma parte considerável da produção local. Tantas vantagens, não é verdade? E é uma coisa simples de fazer.

Por: Acácio Pereira

* Dirigente sindical

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