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Favela

Bilhete Postal

Há uma irremediável desilusão no envelhecimento das coisas, das instituições e das pessoas. Mas muito triste é mesmo uma instituição gasta, gerida por gente que nela viu a erosão, degradada pelo tempo e a falta de arranjo. Um espaço onde cai a maçaneta da porta, onde a zona de sujos se confunde com os limpos, onde a janela range, a porta fecha mal e as mesas balançam. Um lugar de remendos, onde passa gente mal fardada, desmazeladamente trajada, utensílios avós a servir tarefas violentas, onde as pessoas convivem com as infiltrações, os lavabos partidos, os quartos caducos, as camas irregulares. Tudo isto acarreta uma violência enorme a quem por ali resiste durante 20 anos e depois, num repente, se entrega e não luta mais. A coisa vence a pessoa, o cansaço arruma o cidadão. Este é o tipo de Hospital que devia fechar para dar reforma à saúde, e a mobilidade dos seus quadros, para dispersar o azedume, e descobrir um novo fôlego. Há muito disto em Portugal e o seu fim anuncia-se, bem como o de muitas outras coisas. A teoria do “big bang” defende esta ideia de explosão e contracção. Estamos a diminuir depois da máxima dádiva. É o tempo de fechar as favelas.

Por: Diogo Cabrita

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