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Fascismos Nunca Mais

Crónica Política

Escrevo esta crónica política a 25 de Abril de 2011, 37 anos depois da Revolução que fez do meu País uma Pátria livre e democrática. Confesso que o Portugal de então, é para mim uma lição de História construída com base nos ensinamentos escolares e nas longas conversas com quem viveu e com quem ajudou a por fim ao antigo regime.

Para que, como eu, muitos pudessem ter nascido num Portugal livre, muitos foram aqueles que sofreram e lutaram em nome de um sonho que tornaram realidade. Não podia pois, perder esta oportunidade de lhes agradecer por aquilo que fizeram por eles e para todos aqueles que vieram depois, como eu… Bem-hajam a todos.

Não falo do 25 de Abril por oportunismo ou populismo, aproveito esta deixa porque sinceramente apetece-me falar de democracia, ou da falta dela, ou da maneira camuflada com que hoje, alguns se aproveitam dela. Apetece-me falar, porque temo pelo próprio regime democrático, temo porque os momentos de desespero colectivo como aquele que vivemos, são propícios ao aparecimento de demagogos populistas, cujos discursos e acções podem ter consequências muito gravosas. Indigna-me ver pessoas como eu, que sempre viveram em liberdade, colocarem a hipótese de voltarmos a uma qualquer ditadura como possível solução para os problemas que nos afligem.

“A Democracia é um regime imperfeito, mas não conheço nenhum melhor”. Era ainda muito jovem quando li estas palavras proferidas por Mário Soares. Hoje elas fazem mais sentido que nunca. O desafio que se coloca à minha geração é melhorar a nossa Democracia, e não deixar esmorecer o Sonho de Abril.

Aproveito para deixar duas sugestões simples, mas perigosas para todos os Partidos e para os apparatchicks que proliferam no seio dos mesmos. Sugiro a constituição de círculos uninominais, acompanhada da criação de um sistema eleitoral baseado em primárias. Onde se encontra o perigo para os Partidos? Simples; a criação de círculos uninominais seria um forte ataque à divisão administrativa bolorenta e ultrapassada que são os distritos, ou seja, deixaria de fazer sentido a continuação da existência das estruturas partidárias intermédias, o que iria reduzir a “máquina”. As primárias constituem-se como um mal ainda maior. Porquê? Mais uma vez simples, imagine-se que qualquer cidadão se pudesse propor como candidato num qualquer círculo eleitoral onde a população lhe reconhecesse mérito… A democracia ganharia, sem dúvida, mas os detentores dos bancos de votos, os democratas das chapeladas, esses perderiam. Ou seja, os “apparatchicks” perderiam. Há 37 anos Portugal “livrou-se” do fascismo, hoje vive com estes novos “fascismos”…

Concluindo, deixei aqui duas ideias simples, com vista ao aumento da participação e mobilização popular, o que significaria uma maior democratização da Democracia.

Para aqueles que a esta altura possam estar baralhados com este artigo, questionando se o seu autor não é ele próprio um membro activo de um Partido político, gostaria de esclarecer que nem todos se deixam envolver neste tipo de prática, que tem feito da nossa Democracia uma sombra daquilo que devia e poderia ser.

Sou militante do meu Partido há muitos anos e tenho orgulho de dizer que aprendi muito dentro do mesmo. Por tudo aquilo que me ensinaram, quero acreditar que esta nossa Democracia tem salvação, queiram-no também todos aqueles que realmente conhecem e respeitam o seu significado.

Há 37 anos alguém gritou “25 de Abril Sempre, Fascismo Nunca Mais”, hoje, tomo a liberdade de actualizar este slogan dizendo-vos: 25 de Abril Sempre, Fascismos Nunca Mais!!!

Por: Nuno Almeida *

* Presidente da concelhia da Guarda do PS

Comentários dos nossos leitores
Manuel Santinho marsantinho@sapo.pt
Comentário:
…Começam as perseguições às classes profissionais mais influentes, bem como a jornalistas e a cidadãos que de alguma forma, ousam contestar o “lider”. O controlo dos meios de comunicação e até do poder económico: surgem as empresas do regime, coisa nunca antes vista. Entretanto, contrariando a propaganda, os encerramentos de escolas, unidades de saúde, a par das empresas privadas, lançam milhares no desemprego, com muitos a fugirem para o estrangeiro. É evidente a deterioração da situação, tanto ao nível social como económico e financeiro. Não obstante a extorsão fiscal a que fomos sujeitos, eis-nos chegados à situação de Bancarrota, sendo que também o futuro já nos foi hipotecado! Ficámos também a saber, pelo próprio, que afinal, durante estes seis anos, ele não foi primeiro-ministro e a culpa é da oposição… e, numa verdadeira fuga para a frente, apresenta-se, de novo aos portugueses, a defender Portugal, pasme-se! A defender Portugal de quem? Perante tanta mentira, cinismo e hipocrisia é evidente o verdadeiro mal estar e mesmo revolta daqueles que arriscaram a vida, naquele noite de Abril, a começar pelo “pai” da revolução que, no próprio dia da comemoração da data referiu que se era para chegarmos a esta situação, teria sido preferível, não ter saído de casa. Eu concordo com ele.
 
Manuel Santinho marsantinho@sapo.pt
Comentário:
Então cadete em Mafra, a frequentar o curso de oficiais milicianos participei, de G3 em punho, no 25 de Abril, tendo-nos cabido o cerco ao aeroporto de Lisboa. Pensávamos nós, naquela noite de 24 para 25, que íamos depor um regime totalitário para que, a partir daí, passasse-mos a viver num país mais livre, mas sobretudo mais justo, em que seriam escolhidos os mais aptos para nos governarem, sendo que todos passariam a ter iguais oportunidades e, assim, acabariam os compadrios, pelo que todos os cidadãos passariam a dispor das mesmas oportunidades, embora sabendo que nem todos somos iguais, ou seja: uma verdadeira justiça social. Os governos foram-se sucedendo, alternando os partidos que os compunham e o nosso entusiasmo foi esmorecendo, no entanto fomo-nos resignando, pois se é verdade que nem todos mostravam a maior competência na governação, iam fazendo o que sabiam e podiam, sendo que, sempre que algum pequeno escândalo acontecia, a demissão dos prevaricadores era uma marca da diferença, relativamente ao regime anterior, sendo a melhor prova de que continuávamos em democracia. E assim fomos seguindo até que, Sócrates, pela mão de Sampaio, chega ao poder… Cedo se percebeu que algo estava a mudar, até porque nos começaram a apregoar grandes feitos na governação mas… o dia-a-dia ia-nos mostrando exactamente o contrário. Os escândalos sucediam-se uns após outros e demissões… nada. Ninguém se demitia. O apego ao poder parece ser, agora, um fim, sendo que todos os meios usados parecem estar justificados pelo tal fim. O caminho que estamos a trilhar começa a afastar-se, a passos largos, dos ideais de Abril…
 

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