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Fardas e Gravatas

Quando Cavaco Silva se passeou pela Guarda, nos dias 9 e 10 de Junho, não estaria certamente à espera de um banho de multidão. Não o teve. As ruas não estavam cheias de gente à espera de uma oportunidade para o ver, a agitar com entusiasmo bandeirinhas de Portugal ou a gritar-lhe vivas. O mesmo com Passos Coelho, ou com as outras figuras do Estado que vieram às comemorações. O mais próximo que estiveram de um banho de multidão foi quando uma manifestação se fez ouvir logo ao lado, exigindo a demissão do governo. Podemos dizer que o interesse pelos políticos na Guarda foi ao nível da nossa participação nas últimas eleições. É possível que a maior parte dos guardenses não guarde outra memória do discurso do presidente que a do momento em que ele desmaiou e foi ajudado por alguns dos militares presentes. Enquanto Cavaco distribuía medalhas, umas horas mais tarde, depois de uma actuação notável do côro do Conservatório de São José, que os políticos ouviram com um ar enjoado, a cidade em peso estava no parque do Rio Diz, a ver tanques, o F16, o hospital de campanha, e a pasmar perante a simpatia, profissionalismo e paciência dos militares. A ideia geral que ficava é que ainda há instituições que funcionam e sabem o que fazem. Muitos pensariam também, como eu, que foi um erro acabar com o serviço militar obrigatório e que se todos os nossos jovens tivessem de passar por lá isso se iria reflectir positivamente no seu futuro, em mais disciplina, melhores hábitos, mais sentido do dever, mais integridade. Se viesse a ser reposto o serviço militar obrigatório poderíamos até, um dia, vir a ter melhores políticos.

Por: António Ferreira

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